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Partidos "quebra-galho"

Não poucos aqueles que, em momentos de aflição ou mesmo de dificuldades eventuais de qualquer ordem, buscam, na religião, seja qualquer for a confissão, um abrigo, um ponto de apoio. Ainda num desses finais de semana, ao comparecer, como católico, à Missa dominical, recebi um exemplar do semanário litúrgico-catequético, instrumento útil para o acompanhamento da essencial cerimonia religiosa. Lá estava impresso um texto que dissertava sobre o jogo de conveniência ao querer transferir para DEUS “a solução de nossos problemas, jogamos para Ele as responsabilidades que são nossas…Se o ser humano as criou, é dele a responsabilidade da solução…Deus pode nos ajudar a superar a enfermidade, mas cabe a nós eliminar situações que causam tantas doenças”. Não me considero à altura para comentários às observações do autor do artigo – um respeitado religioso. Apenas tomo o bonde andando para estabelecer uma analogia entre o texto religioso intitulado “Religião Quebra-Galho” ao daquele menos respeitável que se convencionou chamar pela mídia e convenções políticas de “partidos quebra-galho”.

Se perfunctoriamente – não há necessidade de análise percuciente, profunda – observar os atuais partidos que polulam no espaço territorial brasileiro, salta aos olhos que, com raríssimas exceções (ponha raro na dose) as agremiações partidárias existentes merecem o epíteto…A anomalia vem de longe, creio desde novembro de 1965, quando do AI 2 do chamado Regime Militar que extinguiu as até então culturalmente assentadas siglas, a UDN, o PSD, PTB, PSP, PSB e outras menores, porém de cunho radicalmente ideológico de esquerda ou direita. Surgiram, então, os fantasmas (nem clones eram), ARENA e MDB, sem eugenia, raça e cor, seres informes. Foi uma geléia geral. O que surgiu d”aí permanece nos dias atuais, nada obstante existirem partidos organicamente estruturados com programas definidos e propostas de ação política. Nenhum deles, porém, capazes de agasalhar somente o trigo, fazem questão de receber também o “joio”, para aumento hipotético de seu contingente de filiados. Joio de todo tipo de grana, interesseiros por cargos e benesses, por amizade ou dependência de um compadre, líder ou chefão, enfim quase sempre de olho grande num objetivo de ordem pessoal. Importante é a conveniência, o “quebra-galho”, hoje ou num futuro, mesmo que distante estejam as eleições, época de colheita…

Com melancolia observo e, confesso, tenho saudades dos tempos em que minha UDN digladiava com o PSD da Cenira Caldas, do Alfredo Arruda, e do PTB autêntico do Nelson Trad, meus prezados amigos de sempre. Cá e lá havia objetivos mais nobres do que vilãos, a disputa pelas posições políticas ou eleitorais o eram para servir à comunidade, isto dentro das concepções culturais da época, jamais imediatista como hoje ocorre. Praticamente não havia esse formalismo besta de filiação partidária com ficha assinada – que, aliás, não vale nada para quem assina d”aí o pouco respeito pela fidelidade partidária – e, sim, um espontâneo desejo de lutar pela legenda que sua conveniência política optou.

Para  mim, o real é a saudade, o irreal é o cotidiano quebra-galho.

Ruben Figueiró de Oliveira é senador suplente