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Passagens, ainda que de passagem !

Dias atrás presenciei a – talvez ! – segunda maior festa popular brasileira : a queima de fogos na praia de Copacabana.

Não sabia se estava mesmo no Brasil ou em algum país europeu, já que os corpos que lá desfilavam eram mais brancos, esguios, longilíneos e vermelhos pelo mormaço e sal d’água,  cabeleiras alouradas ou mesmo ruivas, além da língua menos falada ou ouvida ser o português, especialmente em tempos de sua reforma por decreto.

  Era eu mais um daqueles dois milhões que se dispuseram a sair pouco antes de meia noite e, a passos largos e com destino já traçado, permanecer, como num mar de gente, lado a lado com o oceano atlântico, na orla carioca, com os pés sobre as ondas do calçadão de Copacabana, o coração arrebentado de uma  saudade doída e o pensamento … (sabe lá onde !?!?!), à espera da bateria colorida e sonora de fogos de artifícios que se apresentaria, na virada do ano e dos sonhos, com suas vinte e quatro toneladas e por quase vinte minutos ininterruptos.

Já coadjuvei esse teatro outras vezes, talvez três ou quatro, ou mais, até mesmo na mística passagem de 1999 para 2000, cujo mar humano era maior – não a saudade; mas, mesmo assim, confesso que me senti marinheiro de primeira viagem.

Algo era diferente, ainda que em companhia de pessoas queridas, caras e raras, além de um amigo de há pouco, lá das terras da ‘Bota’, de Da Vinci, Michelangelo, Vivaldi, Verdi, Dante e de meus ancestrais paternos e maternos.

Mesmo que as pessoas se apresentassem alegres, mais pelo álcool, esperançosa, pelo reflexo dos alvos trajes, meus olhos e senso crítico me faziam crer que seus risos e gestos eram comedidos, acanhados, e isso à medida que a beleza do espetáculo era tão esplendorosa quanto etérea, como assim o eram os fogos de artifícios que cintilavam e enganavam nossas retinas sedentas por um futuro já palpável, mas temporal e umbilicalmente ligado ao passado.

De fato, tudo que presenciei me parecia novo, como que pela primeira vez, principalmente as cores e formas que pariam e se multiplicavam com os estrondos das baterias de fogos de artifícios colocadas ao longo da orla, por toda a praia de Copacabana.     

Embora descurtinassem à frente de meus olhos um diferente colorido e suas nuances jamais vistas, além das silhuetas e performances geométricas que singravam o céu que sobre nós abria seu manto suavemente umedecido e choroso, algo me remetia ao que faltava, que ali não se fazia presente e que só encontrarei após muitas outras passagens de ano e vida.      

Acabei crendo, por óbvio e lágrimas,  que toda e qualquer  passagem vale, qualquer que seja ela, ainda que estejamos de passagem !   

*Peço desculpas a(o) leitor(a) por não utilizar a nova ortografia, até por parcial desconhecimento, cuja vigência se iniciou neste 1º. de janeiro de 2009, por decreto e sob forte e balizada crítica dos expoentes de nossa literatura e léxicos.


Julio Cesar Cestari Mancini é Advogado Conselheiro da OAB/MS