A propaganda oficial tem apresentado o Brasil ao mundo com lentes superlativas desde os anos 70. Nosso País possui a 5ª maior extensão territorial do Planeta, a maior faixa litorânea, assim como a maior reserva em biodiversidade (a floresta Amazônica), além de clima tropical e mais de uma dezena de localidades consideradas Patrimônio Mundial ou Natural da Humanidade, como as Cataratas do Iguaçu e o Pantanal. Recentemente, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada Patrimônio Mundial pela Unesco, na categoria paisagem cultural urbana. Sol e praia, ecoturismo e turismo de aventura representam os principais atrativos buscados pelo turismo de lazer dos estrangeiros no País. E o Rio de Janeiro está no destino de 27% deles.
Nesses 40 anos, o fluxo de turistas estrangeiros passou de pouco mais de duas centenas de milhares para quase 5,5 milhões em 2011. Mas se observarmos a receita cambial no mundo (US$ 852,4 bilhões), toda a América do Sul fica com uma parte muito pequena e movimenta volume de dinheiro menor que as ilhas caribenhas. Em 2009, foram US$ 18 bilhões contra US$ 22,4 bilhões, respectivamente. No País, apesar de o montante estar crescendo, este ficou em menos de um quarto em relação ao Caribe em 2009 – US$ 5,3 bilhões. É o caso de perguntarmos aonde temos falhado em nossas políticas na área do Turismo. Com tamanho potencial, parece que ainda não saímos do equivalente ao jardim da infância na definição de estratégias que sejam integradoras e capazes de promover o turismo de maneira competitiva e sustentável.
Para se ter uma ideia, estamos às vésperas dos dois mais importantes eventos esportivos do globo – a Copa Mundial de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016 –, e o principal programa de revitalização da região costeira, o Projeto Orla (conduzido pelos Ministérios do Meio Ambiente e do Planejamento), criado há 12 anos, ainda não saiu da fase de interlocução com os municípios e do campo reivindicatório (por verbas e medidas). É um desperdício, pois o projeto introduz a perspectiva da sustentabilidade no desenvolvimento do potencial turístico dos municípios litorâneos, procurando convencer os agentes públicos e a sociedade a saírem da visão econômica unilateral e a desenharem ações integradas, que disciplinem o uso e a ocupação do espaço de forma a proteger o grande patrimônio local (e nacional), que reside nas praias.
É preciso definir os limites e tipos de ocupação e uso, a produção e destinação dos resíduos sólidos (especialmente do lixo), o abastecimento e tratamento de água, o tratamento de esgoto, a criação de equipamentos mais sustentáveis, a implantação de ciclofaixas, a criação de serviços de atendimento ao turista por meio da capacitação da mão de obra local, e, finalmente, disseminar uma cultura de valorização de todo este patrimônio. Somente através do compartilhamento da corresponsabilidade de todos os envolvidos com a localidade, e tendo nos governos estaduais e federal a adesão efetiva e o apoio indispensável em termos dos instrumentos legais, recursos físicos, financeiros e humanos necessários, programas como esse poderão resultar em conquistas concretas.
A perda do capital natural no País pode se tornar uma tragédia nacional em médio e longo prazo, não apenas pelos efeitos que irá causar sobre o clima, a economia e ao bem-estar humano, mas pela dilapidação de um potencial turístico privilegiado, mas ainda tratado de maneira displicente, desorganizada e pouco competitiva. Portanto, muitas são as razões que justificam abraçarmos a sustentabilidade como norte dos projetos da Nação. O Turismo agrega mais peso a essa visão, não apenas porque depende da sustentabilidade, como precisa ser sustentável para sua própria sobrevivência, buscando “eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica”, tríade defendida por estudiosos brasileiros da área.
JulioSerson é Presidente do Grupo Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP).