Os negros escravos haitianos haviam se revoltado e conseguiram abolir a escravidão a despeito da tentativa de Napoleão de restaurá-la. A maioria dos soldados franceses haviam sido encaminhados na defesa das forças estrangeiras que ameaçavam o império napoleônico. Não houve soldados e munições suficientes para combater os negros haitianos. Assim, a abolição da escravatura e a independência do colonizador francês foram ultimadas pelo grande levante do povo haitiano.
Com a libertação, sob o nome de Santo Domingo, a antiga ilha Espaniola cujo indígenas foram massacrados conforme narra Fray Bartolomé de Las Casas, foi dividida, para conveniência dos colonizadores, em um país de língua espanhola (República Dominicana) e um de língua francesa (Haiti). Com as demais ilhas da chamada Antilhas, transformou-se num forte concorrente do açúcar brasileiro, conforme afirma Celso Furtado em Formação Econômica do Brasil, uma das causas da decadência do ciclo brasileiro da cana.
Com a ajuda do povo haitiano (soldados, armas, navios), Simon Bolívar construiu a Grande Colômbia libertando-a do jugo espanhol, informa Eduardo Galeano.
O vitorioso levante do povo haitiano contra a escravidão e pelos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, torna-o exemplar e emblemático em toda história das Américas. Decidido a receber na nova pátria liberta quaisquer escravos que as procurassem, tanto das demais ilhas quanto dos Estados Unidos, constituiu-se em grande perigo às oligarquias, como a procissão de trabalhadores que acorriam a Canudos. Os Estados Unidos não reconheceram a nova nação senão após seis décadas. Simon Bolívar esqueceu a ajuda do povo haitiano.
As potências investiram-se violentamente contra esse povo que ousou amar a liberdade. Antes a França, depois os Estados Unidos. Sabemos a história de ocupações, de sustento de ditadores sanguinários, de golpes e contragolpes, de intervenções várias. Por último, articularam com França e Canadá, o golpe contra o padre Jean-Bertrand Aristide, eleito presidente.
Fray Bartolomé de Las Casa narra sobre a principal riqueza que impulsionou os conquistadores espanhóis a massacrar os povos indígenas. Hoje, pouco se fala do petróleo, o “ouro negro”, descoberto pelos Estados Unidos, décadas atrás, tanto em terras haitianas quanto nos mares que as banham, sem falar das reservas de gás. Minérios como ouro e cobre já tinham sido objeto de saque conforme narrou Fray Bartolomé de Las Casas. Além desses, urânio, diamantes e irídio são cobiçados pelos ianques.
Na guerra pela primazia das forças de ocupação do Haiti estão os interesses nessas imensas riquezas, além da conveniência geoestratégica. Como muitos da África, o povo haitiano é pobre porque o país e muito rico.
Iolanda Toshie Ide é professora