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Policiais de plantão

É lugar comum dizer que nossa polícia é autoritária, burocratizada, corrupta, covarde, ineficiente, corporativista e desarticulada. Gera quase um consenso.
De nada serve repetir estas palavras de desgosto e resignação se não se propõem soluções ou maneiras de amenizar o problema.
Foi-se o tempo em que eram suficientes os serviços privados de condomínios fechados, cercas eletrificadas e alarmes monitorados. A novidade é o aumento dos vigilantes noturnos que oferecem serviços de segurança desprovidos sequer de posse de arma.
Troquei idéia com o mesmo guarda que se responsabiliza pela patrulha em dois bairros contíguos. Cobra trinta reais mensais dos moradores de um deles, que é de perfil mais popular, e cinquenta do outro porque são de maior poder aquisitivo.
O procedimento é este: quando o morador estiver chegando em casa, geralmente no seu veículo e mesmo em bairro até então seguro, ele telefona ao vigilante, que se aproxima com sua moto enquanto o cliente dessa nova modalidade de segurança entra em casa com menor risco de assalto. Novo uso para o celular.
E a polícia como entra nessa história? Os impostos financiam instituições que não atendem às necessidades básicas de segurança pública. Estabelecimentos comerciais, como padarias e supermercados, continuam sendo assaltados como se não houvesse proteção e punição contra o crime. Virou festa.
Os funcionários destas instituições policiais ganham mal, reclamam da carência de infra-estrutura e equipamentos de trabalho, faltam estratégias eficazes e unificadas para prevenir e combater o crime, a polícia civil trabalha dissociada da militar, o que justifica o confronto entre as duas em São Paulo em 16 de outubro de 2008.
Ainda, é necessária uma reforma constitucional que anule as regalias de poucos setores policiais, dê autonomia aos municípios para decidir sobre a segurança pública e permita a criação e reavaliação de atividades coordenadas entre as instituições responsáveis pela questão.
É preferível ter um número menor de funcionários que sejam muito bem pagos a uma quantidade que, além de continuar baixa, ganhe mal e necessite recorrer a fontes alternativas de renda. São os “bicos”. Pelo menos o salário deixaria de ser pretexto para reclamação.
Este assunto não pode ser tratado somente a partir da emoção, o que nos faria irredimivelmente condenar as instituições de segurança pública, senão pelo uso da razão, que não parece interessar à cúpula dos protegidos por ela. Pessoas que desfrutam de hierarquia elevada e o setor da segurança privada são os menos interessados.
Pela razão: os policiais não sustentam a família com o salário atual; é difícil que arrisquem a vida diante de tanta polêmica em que se inserem por matar desnecessariamente e ter mal preparo; todas as instituições policiais devem-se unir para manter a ordem pública.
O governo federal pode começar a intervir com tropas, e isso é o que proponho provisoriamente, que realizem incursões surpresas em cidades de todo o país para reprimir ações criminosas e inibir a violência em outras urbes que poderão ser as próximas vítimas.
Situei os sistemas policiais civil e militar como objetos deste texto, portanto mais passíveis de críticas pela péssima atuação. Se o problema fosse só a falta de verba, o governo seria o maior responsável pela flagelação e desprestígio que essas instituições atravessam.
A nossa polícia de atuação municipal e estadual confirmará seu papel de enfeite se não houver mudança na legislação constitucional que regula o seu funcionamento e principalmente a elaboração de estratégias articuladas de combate ao crime.
Este tema tira o sossego de qualquer um.

Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais.