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Politicagem brasileira versus (des)educação

Ano de 2010, ano de eleições e mais uma vez os planos mirabolantes que ressuscitarão a educação ressurgem. Gostaríamos de que chegasse o tempo em que a sociedade assumisse a posição de defesa real da educação. Afinal, sabe-se que ela é pré-requisito para as mudanças necessárias que recolocariam a sociedade nos trilhos. Países como o Japão, a China e a Coréia do Sul já colocaram isso em prática e estão colhendo bons frutos.
O Brasil vive um momento conturbado diante de tantos problemas, como  a violência, a droga, a corrupção, a falta de saúde, a ausência de saneamento básico, a piora da educação, entre tantos outros.
Perante esse quadro, somente um bom nível educacional poderia contribuir para transformar as bases da sociedade. Atente-se, no entanto, para o fato de que boa parte dos nossos políticos e da própria elite parece não fazer questão de revitalizar a educação, porque, dessa forma, continuarão dominando muitos com poucas migalhas. Preferem deixar as coisas como estão para trocar as possíveis “soluções remediadoras” por votos. Ludibriar um povo bem educado e bem informado seria tarefa difícil. Até mesmo o nível da política se aprimoraria, já que a possibilidade de termos melhores políticos se ampliaria. Uma sociedade educada cobraria melhorias nos serviços públicos, como saúde, educação, infraestrutura, segurança, entre outros.
Crer nos políticos tem sido, todavia, uma missão impossível. O Jornal do Brasil (edição de 26-06-2010) apresentou o resultado de uma pesquisa realizada no último mês de março pela empresa alemã GfK, que entrevistou mil brasileiros e constatou que os políticos formam a classe de profissionais menos confiável, com apenas 11% de credibilidade. Esse percentual revela, entretanto, que eles estão conseguindo piorar, já que, no ano de 2009, eram considerados confiáveis por 16%. Os destaques foram os bombeiros, com 98% de credibilidade, os carteiros (92%) e os professores (87%). Essa pesquisa foi feita em 19 países, e, em âmbito internacional, os professores ultrapassaram os carteiros e conquistaram o segundo lugar no ranking. Infelizmente, os políticos continuaram ocupando a última posição. Em suma, parece que os políticos deixam a desejar em qualquer lugar do mundo e que os bombeiros e professores atendem à sociedade adequadamente, embora nem sempre sejam reconhecidos.
Já que pelos dados da pesquisa os políticos não são confiáveis e os professores o são, vamos lutar pela melhoria na educação. Nas suas entrelinhas, mostra que a população confia na educação, mas infelizmente nossos gestores públicos têm-na colocado na latrina. Uma prova do descaso com a educação ocorreu no Estado de São Paulo: distribuíram, pela rede estadual, livros didáticos que continham um mapa com dois Paraguais.  Outro caso foi o livro de quadrinhos recheados de palavrões, ilustrações obscenas e linguagem chula de péssima qualidade. Como se não bastassem esses exemplos, a Folha de São Paulo informou ainda a existência de um terceiro livro, que era de poesias, uma das quais recomendava “desprezar o amor e preferir o estupro”. É muito descaso com uma área prioritária como é a educação no principal estado do Brasil.
Ainda sobre essa questão destaco as palavras de Mauro Santayana  (Jornal do Brasil – edição de 29-05-2009): “É um erro entender a educação como um meio de ajustar o aluno a seu tempo, quando esse tempo é inconveniente ao homem. A educação deve ser teleológica. Os alunos têm que ser preparados não para submeter-se a uma sociedade deformada pela injustiça mas, sim, para mudá-la. A educação deve libertar o homem, e essa libertação não se encontra na banalização do sexo, no repúdio ao amor, no ódio psicopata contra a vida. As sociedades totalitárias – como a do neoliberalismo – sempre estimulam a liberdade dos costumes, a fim de distrair os povos de seus direitos reais, de sua essencial dignidade”.
Antigamente, tínhamos uma cartilha chamada “Caminho Suave”, mas atualmente não há nada de suave para os caminhos por onde anda a educação. Os muitos episódios de descaso com a educação dariam para escrever livros. Outro exemplo foram as “escolas de lata” que existiam em São Paulo. Por que justamente as escolas públicas foram construídas de lata? Educar não é adestrar para abrir mão de seus direitos e dizer amém a todos e a tudo!
Se tivéssemos uma educação de qualidade, e não essa vergonha, que nos levará ao apagão intelectual, será que esses políticos continuariam no poder (des)educando-nos? Será que não haveria uma revolta por meio de ressonância nas ruas contra os maus políticos e péssimos serviços públicos essenciais?
Outro ponto que vem chamando a atenção são os recursos humanos e materiais que envolvem a educação.  Vamos juntos buscar respostas para essas questões: Por que boa parte dos prédios públicos que envolvem a área da educação está sucateada? Por que grande parte dos veículos públicos que transportam alunos está em péssimas condições? Por que a maioria do mobiliário das escolas públicas está em más condições? Por que as escolas públicas são cada vez mais violentas? Por que faltam funcionários na área da educação? Por que os professores estão desestimulados?
Parece que os valores estão distorcidos, não interessando aos “demagogos de plantão” que a sociedade inverta a situação para arquitetar uma sociedade bem educada, crítica e reivindicatória. A educação liberta!
 
Marçal Rogério Rizzo é economista e professor universitário da UFMS de Três Lagoas. E-mail:
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