Veículos de Comunicação

Opinião

Por que tanta pressa?

O ano político começou com troca de declarações e de notas insultuosas de petistas contra tucanos e de tucanos contra petistas, mas o que interessa de fato é o que está embaixo dessa, digamos, espuma verborrágica: a decisão de Ciro Gomes, se vai ou se não vai, o quebra-quebra para definir o candidato a vice de Dilma Rousseff e a pressão sobre Aécio Neves para ser vice de José Serra.
O PT pressiona para Ciro não ser candidato, temendo que ele ocupe o espaço "anti-Serra", que está reservado para Dilma. Mas o PSB não tem a menor pressa e avalia os cenários, tanto o da campanha nacional quanto o da campanha paulista — como Ciro mudou o domicílio eleitoral para São Paulo, um trunfo para ele e para Lula pode ser a sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.
Há, claro, a possibilidade real de Ciro ter querido tudo e ficar sem nada: nem a campanha à Presidência, nem a corrida ao Governo de São Paulo. Se depender do PT, fica sem nada; se dependesse dele próprio, ficaria com tudo ao mesmo tempo. Logo, quem tira a teima é… Lula.
A questão da vice de Dilma também está acirrada. O partido preferido de Lula e Dilma para ocupar a vaga é o PMDB (pelo tempo de TV e pela capilaridade nacional). Mas o PMDB lulista indica o presidente da Câmara, Michel Temer, que é alvo de dois tiroteios: um do próprio Lula, que já deu um tiro de raspão nele, ao cobrar uma "lista tríplice"; o outro é do próprio partido, que virou metralhadora giratória, pois uma parte significativa de líderes não quer pular já no colo de Dilma antes de ter mais segurança sobre as chances de vitória da ministra.
Do outro lado, o PSDB continua com uma só alternativa para a vice de Serra: ou Aécio ou Aécio, para fechar a chapa café-com-leite, São Paulo-Minas. Mas, enquanto isso, o governador mineiro só pensa naquilo: fortalecer a candidatura do seu vice, Anastasia, para a sua própria sucessão. Como o PSB e como o PMDB não dilmista, ele não está com nenhuma pressa.
Ou seja: o bate-boca e a campanha frenética que já estão na rua dão a impressão errada de que tudo está decidido e é hora de os adversários se enfrentarem. Mas, até lá, muita água vai rolar debaixo das duas candidaturas principais. Além, obviamente, daquele aguaceiro que cai desumanamente sobre São Paulo e encharca a imagem de bom gestor de Serra.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha