A presidente Dilma Rousseff, em mais uma viagem internacional, foi aos Estados Unidos na semana passada, para tratar, entre outros assuntos, de questões relacionadas ao ensino superior. Visitou Harvard, a mais importante universidade do mundo, e o mítico Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), na companhia do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para apresentar e discutir o programa Ciência Sem Fronteira – projeto que pretende enviar 100 mil brasileiros para estudar em universidades estrangeiras. Assinou convênios de cooperação, ampliou o número de bolsistas e mostrou preocupação com a formação acadêmica, principalmente na área de ciência e tecnologia.
A formação dos estudantes nessas áreas estratégicas é uma das pedras no sapato dos últimos governos. Já faz tempo que o Brasil naufraga nas avaliações de estudantes em ciência e matemática, em comparação com as nações mais desenvolvidas. Portanto, metas como o aperfeiçoamento nas melhores universidades dos Estados Unidos e da Europa, por mais meritórias que sejam, continuam a privilegiar a ponta superior do sistema de ensino. Ou seja, embora sejam valiosas para a qualificação de alunos e para alavancar o desenvolvimento nacional, mas não terão o condão de resolver o mais grave problema estrutural da educação brasileira, que se situa na base do sistema – no crucial período que vai das creches ao ensino médio.
Para uma nação que pretende desempenhar um papel destacado no cenário mundial, o Brasil ainda engatinha nas questões relevantes para reduzir a perversa desigualdade educacional (aliás, a raiz de todas as outras). A formação deficiente de professores, os baixos salários, a falta de estrutura das escolas, o investimento pífio em pesquisa, a resistência às avaliações e às premiações ao mérito – todos esses fatores prejudicam o alívio no gargalo de mão de obra qualificada, que as empresas já enxergam hoje como sendo o grande entrave para o desenvolvimento econômico do país.
A partir do programa Ciência Sem Fronteira, esperamos que a preocupação com a qualidade de ensino volte a permear as discussões e a educação se torne novamente prioridade entre as várias instâncias do poder público. E não é pedir demais. É importante que os alunos saiam do ensino básico sabendo ler e escrever perfeitamente e fazendo as operações elementares sem dificuldades. Que tenhamos um ensino médio forte, utilizando as novas ferramentas didáticas que impulsionem o gosto dos jovens pela ciência e tecnologia. E que o poder público invista em pesquisa nessas áreas para que possamos formar talentos aqui, sem precisar ir ou buscá-los fora de nossos limites.
* Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.