Diversas cidades do Estado de São Paulo estão proibindo a molecada de praticar uma atividade antigamente salutar e agradável, além de barata e acessível a todos. Empinar pipas. Quem nunca teve uma, duas ou até mais que uma e nunca correu pelas ruas, aproveitando o vento das manhãs ou finalzinho da tarde? Pipas foram, ainda, inspiração para compositores de músicas e poesias, artistas plásticos e pintores.
Mas, esse tempo parece que passou. Ao menos em cidades paulistas, empinar pipas está proibido ou perto de se tornar uma infração punível com multa a pais de adolescentes que forem flagrados com o brinquedo pelas ruas. Perto de Três Lagoas, em Castilho e Andradina é quase criminoso empinar pipas.
Tudo isso requer uma explicação satisfatória. A proibição ou, ao menos, uma limitação do uso do brinquedo decorre de uma distorção que é praticada também há muito tempo. As pipas se transformaram em perigo para ciclistas, motociclistas, seus passageiros e até mesmo para quem anda a pé nas ruas, trabalha em telhados, postes de eletricidade etc. O uso de linhas cortantes, famosas pelos nomes de cerol ou chilena, tão comum em todas as cidades, faz das antes inofensivas pipas um instrumento que pode causar a morte. Aliás, o que não faltam são exemplos de acidentes com pessoas mutiladas ou mortas pelos cortes em braços, rosto e pescoço.
Em um acidente, no início deste ano, uma moça de 27 anos morreu ao ter a linha de uma pipa empinada por três crianças enrolada no pescoço, em Andradina. Imagens da vitima agonizando correm o mundo, pela internet, até hoje. Mas, os gritos de dor da moça não parecem comover quem fabrica as linhas cortantes nem os pais de adolescentes que ameaçam a vida de terceiros e colocam a própria vida em risco. Daí a causa da proibição.
No folheio da coleção dos 70 anos de publicações do Jornal do Povo não é raro encontrar reportagens e acidentes com mortes – entre elas, com pipa em que linhas usadas continham vidro moído e cola, uma mistura fatal especialmente para quem anda de moto ou de bicicleta.
Para justificar essa abordagem como editorial do Jornal do Povo é necessário lembrar que o número de motos, bicicletas elétricas e bicicletas comuns é cada vez maior em Três Lagoas – cidade plana que favorece o uso destes tipos de veículos. Felizmente, ou até agora, o número de acidentes não acompanha esse dado.