Diferentes de nós, por mais sabidos que possamos ser, as crianças, sim, sabem viver bem, pois não enchem a cabeça e o coração com tanta “bobagem” – mesmo que nós, muitas vezes, julguemos que aquilo que elas fazem é sem importância e… bobagem, como fala-se tantas vezes.
Bobagem é querermos melhorar a qualidade na educação, insistindo em agir, da mesma maneira, com públicos hoje tão diferentes daqueles de anos atrás.
Se nos permitirmos aprender com uma criancinha, vamos ver que é exatamente nessa fase que são construídos tantos aspectos da personalidade de um adulto, o qual habita e habitará esse já tão conturbado mundo. Sem atentar para as necessidades de uma criança, ainda em seus primeiros anos na escola, não se conseguirá criar bases sólidas para um tão sonhado mundo melhor.
A criança sabe do que ela precisa e, mesmo que fatores alheios a sua vontade tentem impedi-la, ela consegue suprir suas necessidades de brincar, sorrir, divertir-se, rir de fatos até mesmo pouco engraçados aos nossos olhos, aliás, necessidades essas que também nós, adultos e experientes na arte de viver, também temos.
O pouco tempo, contudo, tem como consequência o pouco caso e, com isso, muitos de nós não damos a atenção devida às necessidades de transformar nossas escolas em ambientes mais agradáveis, seguros, mais humanos, mais comprometidos com o futuro de todas as nossas crianças, de todos os nossos alunos.
A criança sabe o valor de aproveitar o máximo possível de seu tempo e, não raras vezes, ela está morrendo de sono, mas não se dá por vencida, quer continuar a brincadeira, quer continuar acordada e desfrutando de sua mais plena consciência.
Pois é, precisamos mesmo reaprender com nossos pequenos, pois eles sim sabem que nada repara o tempo perdido, a brincadeira que não foi permitida, o abraço que não foi dado, a experiência que negamos querer viver…
É momento de pararmos um pouco e de olhar mais atentamente para as reais necessidades do sistema educacional e de enfrentá-las com o mesmo ímpeto que uma criança tem ao brincar com aquele brinquedo que acaba de ganhar.
Esse ímpeto não é inconsequente, é humano, pois entende a urgência de se tomar medidas sérias para resolver pendências que podem minar o vigor e a beleza que todos os nossos alunos têm ao entrar pelo portão da escola.
Lá dentro, ou seja, aos nossos cuidados, eles precisam sentir-se seguros e acolhidos, pois estão confiando em nós as satisfações de muitas de suas necessidades e, como já adultos e experientes que somos, não podemos negá-las a eles.
Erika de Souza Bueno é professora e consultora de Língua Portuguesa e Espanhol e articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família