A um dia do movimento social que deve provocar os maiores estragos políticos ao governo da presidente Dilma Rousseff, em seu segundo mandato, a imprensa mundial disponibiliza espaço para reproduzir e repercutir uma declaração da chefe da Nação, que contraria todo o propósito dos atos de protestos. Dilma afirmou em entrevista coletiva que “não tem cara” de quem vai renunciar ao mandato. Nenhuma novidade.
Antes da declaração de Dilma, das suas demonstrações de coragem de enfrentar protestos e de não raciocinar ao envolver-se em questões que não teria outra alternativa senão a de manter-se neutra, deixaram bem claro que nada a tirará de seu cargo, antes de 2018.
Dilma comprova o que todos sabiam: é uma mulher destemida quanto a resultados do que pode proceder de suas atitudes. Não é o caso, porém, de pensar que um governante deve deixar o cargo porque um grupo de políticos ou milhões de pessoas foram às ruas pedir sua renúncia. Um chefe de Nação deve oferecer mais ao país do que a renúncia.
Meio complicado, o movimento que deve eclodir em todas as capitais e grandes cidades brasileiras, não pede a renúncia da presidente. Quer seu impeachment.
O calor que cresce a cada revelação de escândalos envolvendo políticos, misturado à indignação da falta de capacidade do governo dela de administrar o país, provocam uma reação química que não pode resultar em mais nada que a proposta do seu impedimento político. Menos que isso seria remédio tipo placebo.
Dilma perdeu grande parcela do comando do país, nos últimos anos, ainda em seu primeiro mandato. É suspeita de crime eleitoral, por abuso de poder econômico. Foi incapaz de dar respostas suficientes aos problemas nacionais, apesar de ter se esforçado para manter programas sociais e abrir legislações, além de encarar a maioria ao propor o corte de gastos, mesmo que afetando direitos de trabalhadores e aposentados. É, ainda, corajosa a ponto de insistir na recriação da CPMF, talvez porque não veja nenhuma outra saída para sustentar os gastos de seu governo.
É uma mistura de atitudes, que vai desta coragem de enfrentar resistências ao desmazelo com a obrigação de cuidar do patrimônio público. Dilma consegue, ainda, transitar entre problemas, erros e deficiências, mesmo que cambaleando. Em seu rol de atos somem-se gastos desmedidos para a realização da Copa da Fifa, por exemplo, e o financiamento de pesquisas para a busca de vacina para a cura da dengue. Erros e acertos quase naturais para quem precisa dirigir uma Nação açoitada por golpes de corrupção anexados à sua história, no capítulo “jeitinho”.
Dilma entrou no Palácio do Planalto pelas mãos de Lula e,não é com mais um protesto, que sairá de lá enquanto o ex-presidente desfrutar de poder político e popular. E mesmo atolado em suspeitas, Lula é o sustento político que Dilma precisa para prosseguir em seu mandato. Sem ele, a história seria outra.
E quem deve ir ao protesto de amanhã, pedir que Dilma saia, que Lula seja preso, que o STF não desbanque o juiz Sergio Moro da operação Lava Jato? Empresários, políticos de oposição, religiosos, trabalhadores comuns, donas de casa, estudantes de cara pintada? Ou todos esses?
Então, qual desses pode acrescentar, em um protesto, o item crucial para a queda do governo e seus aliados? O processo de troca de um governo é bem mais complexo, mesmo em uma república e mesmo em democracia.
Dilma fala a verdade quando afirma que não sairá pela porta dos fundos. A presidente incorpora um capitão que não abandona o barco em nenhuma circunstância e se apresenta como kamikase disposta a guardar para o fim seu maior e mais bélico armamento. Dilma não se assusta com protestos, até mesmo com o envolvimento de segmentos poderosos da sociedade, como a Maçonaria, fatias da Igreja Católica, grupos sociais e clubes de serviços, além de parcelas da classe artística, gritões, filósofos das redes sociais e jornalistas. Dilma não se curva e não identifica a hora de pedir desculpas à Nação e sair. Afinal, aprendeu com Lula.
O projeto de governo que ela integra, desde que os brasileiros resolveram eleger Lula a presidente, é muito maior que qualquer pressão que se faça. O PT e a cúpula que integram o governo já preparam um remendo para os estragos porque sabem que só sairão do poder se o Congresso Nacional determinar. E isso, nas circunstâncias conhecidas, está bem distante da realidade.