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Quem é o verdadeiro palhaço?

“Mas nós, dançamos no silêncio, choramos no carnaval, não vemos graça nas gracinhas da tv, morremos de rir no horário eleitoral” (Engenheiros do Hawaii – música: Outras Frequências).
Ufa… acabou as eleições de 2010. Contudo, um importante tema que tem ocupado grande espaço na mídia, porém a polêmica e o sensacionalismo em torno da eleição do palhaço (humorista) Tiririca ganhou muitos minutos do jornalismo da televisão e das páginas de revistas e jornais. Também pudera! Foi o candidato mais votado para deputado federal do Brasil, obtendo 6,35% dos votos válidos do estado de São Paulo.
Para iniciarmos nossa reflexão, citamos artigo um trecho do texto de autoria de Fernando de Barros e Silva (Folha de São Paulo, de 24-08-10), intitulado “Expresso Tiririca”, que dizia o seguinte: “Se a política é uma palhaçada, vote no palhaço […]. O Congresso seria um circo, e o ‘abestado’ pede seu espaço no picadeiro”.
Ainda no mesmo artigo, Barros e Silva trouxe à tona fragmentos da propaganda eleitoral de Tiririca, onde o candidato perguntava: "O que é que faz um deputado federal?" e respondia: "Na realidade eu não sei, mas vota em mim que eu te conto". Seu bordão mais famoso que ficou gravado na mente de todos foi: "Vote no Tiririca, pior do que tá não fica".
Parece confuso, a princípio, entender como 1.353.820 eleitores do estado de São Paulo (o mais desenvolvido do Brasil) votaram em um candidato que não apresentou nenhuma proposta séria, e até mesmo não levou a política, em nenhum momento, a sério.
Poderíamos parar por aqui se considerássemos apenas que Tiririca é mais um caso de um cidadão famoso que resolveu utilizar-se de sua popularidade para se embrenhar no mundo da política. Mas vamos além: Tiririca pode ter sido usado por um partido político para ser um “puxador” de votos e levar consigo mais alguns candidatos. Claro, sem tom de inocência, já que, estando eleito, seria mais um de nossos deputados usufruindo de um bom salário e muitas mordomias por, no mínimo, 4 anos de mandato.
Além disso, não vejo o voto creditado a Tiririca como um voto somente de protesto ou de gozação, como já foi feito anteriormente ao rinoceronte Cacareco (zoológico de São Paulo), que recebeu, na década de 1950, uma votação espantosa para deputado federal, suficiente para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Tivemos também o caso do macaco Tião do zoológico do Rio de Janeiro, que obteve cerca de 400 mil votos para prefeito do Rio de Janeiro em 1988. De fato, se o voto ainda fosse manuscrito, podem ter certeza de que elegeríamos outros animais além desse rinoceronte e do macaco. Talvez, quem sabe, o Louro José da Ana Maria Braga.
Há, por outro lado, indícios de que parte dos votos que Tiririca recebeu nessa eleição provém daquele eleitor que, até a última hora, não encontrou (ou nem mesmo buscou) opção nos demais candidatos ali apresentados. E mais: cremos piamente que é aquele eleitor que se sente o verdadeiro palhaço e que assiste, de sua residência, aos políticos nadando de braçada no mar de lama feito com o dinheiro público. Aí decidiu votar no Tiririca em razão de pensar “pior do que tá não fica": É uma espécie de voto por desalento.
Como se sabe, historicamente é muita palhaçada (escândalos) para um único picadeiro (Brasil). Só pra refrescar a memória: Caso PC Farias; CPI dos Anões do Orçamento; Escândalo da Compra de Votos para Emenda da Reeleição de FHC; CPI dos Correios;  Mensalão do PSDB; Mensalão do DEM; Mensalão do PT; CPI da corrupção da Câmara Legislativa do DF, Escândalo dos atos secretos do Senado Federal, entre centenas de outros episódios envolvendo a União, os estados e os municípios. Infelizmente a impunidade ainda prevalece.
Obviamente, política deveria ser coisa séria. Em todo caso e diante do exposto, não vemos que os votos creditados ao palhaço Tiririca tenham sido uma aberração do processo eleitoral. Verdadeira aberração é o que parte de nossos políticos tem feito com seu mandato e com o povo deste Brasil. Beira um insulto à inteligência o ex-governador Garotinho ter sido o candidato a deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, Paulo Maluf obter seus 500 mil votos em São Paulo e até Jader Barbalho ter sido muito bem votado no Pará. Talvez a maior aberração esteja nos votos dados a Weslian Roriz que a levaram para o segundo turno na disputa do governo do Distrito Federal. A candidata/esposa foi chamada de última hora para substituir o seu marido, Joaquim Roriz (PCS), cuja candidatura foi barrada pela Lei da Ficha Limpa.
Moral de história: Nós, trabalhadores, contribuintes e eleitores é que somos os verdadeiros palhaços! Parte de nossos políticos tem se portado como verdadeiros espertalhões! Como dizia Rui Barbosa: "Nação de analfabetos, governo de analfabetos".
 

Marçal Rogério Rizzo é economista e professor da UFMS. Mestre em Economia e Doutor em Geografia