Cheguei com prazer ao final do último vídeo em que Ary Rigo estrela, para todo o Brasil, sua confissão sobre parte das mazelas do Poder Legislativo Estadual.
Com prazer, porque, pela primeira vez, alguém encara a câmera e diz com todas as letras que corrompe e é corrompido, isto é, faz parte de um sistema por si só irremediavelmente corrompido.
Ouve-se falar que há deputados, juízes, promotores, servidores públicos em geral envolvidos em patranhas. Mas as provas são sonegadas ao povo e vêm a público apenas as fofocas, o tititi, o diz-que-diz.
Não são informações confiáveis. Licitações milionárias fraudadas, coisas escabrosas vindas lá dos lados do Tribunal de Contas, dinheiro para obras que desaparecem no caminho. Mas quando se quer ver prova, mesmo, “estamos investigando”.
Verbas para a saúde, para transporte, para infra-estrutura, saneamento chegam ao Estado diminuídas do “preço político”, da propina, dos 10% de praxe.
Alguns dão nome de “contrapartida”. Bem, nesse ofidiário, as histórias se repetem e ninguém está livre, nenhum governo, atual, ex o vindouro. É a mesma máquina que está contaminada com o jeito brasileiro de ser desonesto.
Agora, não. Um deputado, dos antigos, dos dinossauros, vai à câmera, no mundial Youtube, e solta o verbo.
Minha dúvida é apenas uma: quem mais está envolvido e não foi citado no depoimento? Não é crível que Ary Rigo tenha sido o único deputado envolvido nesse propinoduto. A Assembléia tem diretoria, tem uma Mesa Administrativa, normalmente, formada pelos mais antigos deputados.
A dúvida subsidiária é a de sempre: até que ponto as autoridades irão investigar esse assunto, irão lancetar esse tumor que sempre esteve aí.
Digo que o homem que convive com o crime não tem direito a ficar escandalizado quando ele vem à tona. Deve, apenas, registrar o baque.
Estou aguardando novos atores e novos vídeos. Não por prazer, mas para que o Estado seja expurgado de mais alguns crápulas.
Estamos, ao que tudo indica, caminhando para um dos mais corruptos governos no nível federal. Pelo jeito, posto que não acredito em regeneração da máquina pública, o Estado está no mesmo caminho.
Aqui a lamparina de Diógenes iluminaria em vão.
João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor