* Tony Lucas Vieira dos Santos: Acadêmico do curso de Administração da UFAL – Campus de Arapiraca/AL.
* Israel silva de Macedo: Professor do curso de Administração da UFAL – Campus de Arapiraca/AL.
Para compreender-se a origem do termo narcisismo, deve-se remontar à época da Mitologia Grega. São muitas as versões sobre a história de Narciso, todavia, uma das mais conhecidas é de que ele era um rapaz de bela aparência e, após ter desprezado o amor de uma jovem chamada Eco e fugido dela, encontrou um rio de águas cristalinas, deitou-se para saciar sua sede e se apaixonou por seu próprio reflexo transparecido sobre as águas – foi condenado pelos deuses a se encantar e ficar perdidamente apaixonado por sua própria imagem refletida.
Conforme os parâmetros da psiquiatria e da psicologia, o narcisismo só se torna preocupante quando o indivíduo transpõe o limiar do que é considerado saudável e passa a se tornar doentio, isto é, quando esses “delírios” de grandeza influenciam diretamente e de forma negativa os seus relacionamentos interpessoais. Daí a relevância deste tema, que se tornou objeto de estudo de várias ciências, inclusive da Administração.
Analogamente, são muitos os estudos desenvolvidos que sugerem que as redes sociais têm, de certa forma, contribuído para o desenvolvimento de características narcisistas nos indivíduos, que podem ser evidenciadas pela necessidade de autoafirmação perante a sociedade e, principalmente, na construção fantasiosa de um “eu ideal”. Isso também gera uma relação contraditória, pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo vende uma imagem idealizada de si, se confronta com a percepção da realidade em qual está inserido, e que muitas vezes diverge do que é apresentado na internet. Do mesmo modo, percebe-se que a juventude contemporânea também apresenta traços de carência afetiva que também é um aspecto narcisista decorrente da era virtual que impõe, de forma indireta, dificuldades para a comunicação face a face, aspecto que contrasta com o argumento frequentemente utilizado de que a tecnologia facilita a “interação” entre os indivíduos.
Segundo Cláudio Cardoso Paiva no texto “O Espírito de Narciso nas Águas do Facebook. As Redes Sociais como Extensões do Ego e da Sociabilidade Contemporânea” publicado em 2012, os usuários das redes sociais, sobretudo o Facebook, tendem a exibir o que ele denomina de “persona midiática”, pois evitam compartilhar as imagens de si mesmo, consideradas mais modestas. O narcisismo desses indivíduos consiste no ato simbólico de postar uma foto na rede, levando em consideração os padrões de “embalagem bem feita” que são socialmente construídos e fomentados pelos meios de comunicação. Em contrapartida, o autor também ressalta um aspecto útil deste processo, que se reflete em uma demonstração de generosidade e apoio moral, refletida através da arte de “cutucar” ou do retorno informando que o outro “curtiu” determinada postagem e até mesmo no feedback contido nos comentários e nos processos de decisão baseados na noção de utilidade, que levam ao compartilhamento de uma determinada informação, vídeo, ou foto etc.
Em vista disso, a aparente relação entre o uso das redes sociais e os traços da personalidade narcisista não deve ser tratada como algo exclusivamente prejudicial, sendo necessário avaliar todas as influências dessa relação na construção subjetiva do sujeito, analisando também os benefícios decorrentes da mesma, já que a necessidade de reconhecimento e autorrealização parece ser uma característica intrínseca de grande parte dos cidadãos que não é passível de ser modificada facilmente.