*Luiz Carlos Amorim
Os livros para colorir, que estouraram no gosto do público, nos últimos tempos, me fazem lembrar os livros de fotos com motivos específicos, como animais, crianças, pássaros, natureza, cenas domésticas, com pequenos textos como legenda: máximas, ditados, pequenos poemas, pequenas prosas poéticas, “pensamentos”, como diríamos nos anos 70, etc. Esse tipo de livro vendeu muito e vende ainda hoje.
Pois agora é a vez dos livros com desenhos em preto e branco para colorir. Estão vendendo muito e fazendo a alegria de editoras e livreiros. Eu, na verdade, não sei se vejo isso como novidade alvissareira, porque há os prós e os contras. Vai haver quem não goste do que vou dizer, mas nunca agradaremos a todos, isso é uma verdade inegável.
O caso é que quem compra um livro de desenhos para colorir deixa de comprar um livro literário, com textos, um livro para ler. Ah, mas algumas das pessoas que compram os livros de colorir não comprariam outro livro. Tudo bem, mas há aquelas pessoas que são boas leitoras e compram o livro de desenhos, sem texto, para conhecer a novidade, mas deixam de comprar um livro com textos, porque precisam escolher entre um e outro. A crise em que o país se encontra, em que nós, cidadãos, temos que pagar a conta de erros e roubos homéricos dos “administradores” da coisa pública, nos obriga a fazer escolhas, porque nem tudo pode ser comprado de uma vez só.
Colorir, pintar os desenhos é uma terapia. É verdade. Também é verdade que há um mercado para todos? Talvez. Mas temos visto, em feiras do livro, em livrarias, as pessoas escolhendo entre um e outro, porque nem sempre dá para levar os dois. E os livros para colorir, frise-se, não são livros para crianças, são também para adultos.
Quem sabe não se pudesse inserir algum texto – pequenos poemas, pequenas prosas, para incentivar o hábito de ler, para que aqueles que não eram leitores assíduos, mas aderiram aos novos “livros”, passassem a ter algum contato com a leitura, e assim fazer um bom casamento, de novo, entre desenho e texto? Seria uma maneira de conquistar novos leitores, aqueles que foram atraídos pelos desenhos, mas não tinham o hábito de ler.
Como fizeram os autores dos livros de fotos, que associaram as fotos a pequenos textos e obtiveram o maior sucesso. Sucesso que não foi divorciado da leitura, pois eles traziam, incorporados, prosa ou poesia.
Fica a dica. Não estou dizendo, absolutamente, que os livros de desenhos para colorir não são bons. Mas eles podem ser melhores, se ajudarem a incutir o gosto pela leitura. Vamos colorir a leitura?