Por Aline Cardoso Batista e Vanessa Cristina Lourenço Casotti Ferreira da Palma *
Tem-se por conceito de sustentabilidade o conjunto de ações humanas – ações de todos os seres humanos, desde o grande empreendedor até o mais simples cidadão – que buscam suprir as necessidades da humanidade sem prejudicar as gerações futuras, o que implica preservar o meio ambiente visando ao bem-estar social e à qualidade de vida dos habitantes do planeta Terra.
No cenário em que vivem as sociedades contemporâneas, a qualidade de vida e o bem-estar social estão, no entanto, diretamente ligados ao consumismo, ou seja: a dignidade de um indivíduo é medida pelo tanto que ele consume, pelo que ele possui. E isso caracteriza o falso moralismo que a sociedade tem pregado.
Esse “adestramento” do ser social é o que importa aos que estão em um nível mais elevado da pirâmide econômica, pois é mais fácil controlar e manipular pessoas que se preocupam em consumir para serem inclusas socialmente, do que aquela que realmente buscam efetividade dos direitos sociais e políticas públicas integradoras para esse mesmo fim.
Como Michel Foucault cita em seu livro As verdades e as formas jurídicas, o panoptismo, que é um aspecto predominante na sociedade contemporânea, é a forma pela qual as instituições de subpoder (empresas ou escolas, dentre outras) controlam e criam políticas de controle, vigilância e correção quanto ao direcionamento do ser humano. Em outras palavras, a todo momento o homem é escravizado por uma ideologia que ele conhece e compartilha, mas cujo verdadeiro objetivo não enxerga.
A partir desse conceito, entende-se que, para que a sustentabilidade tenha eficácia e possa progredir em seu principal objetivo de “salvar o planeta”, é relevante a participação da totalidade dos seres humanos em prol desse interesse. Isso não significa apenas adquirir um novo produto que está rotulado como ecologicamente correto, pois o papel de bala jogado no chão ou a garrafa d’agua atirada pela janela do transporte público ou ainda os papéis impressos e posteriormente descartados no lixo comum não serão compensados com um simples rótulo adquirido no supermercado ou com a sacola biodegradável.
“Pouco importa a sustentabilidade” é o que a sociedade contemporânea está dizendo quando não educa suas crianças para viver em um planeta sustentável. “Pouco importa a sustentabilidade” é o que se diz no período das eleições quando há panfletagem de candidatos que promovem sua imagem por meio de papéis inúteis, que transformarão as ruas da cidade em uma montanha de lixo. “Pouco importa a sustentabilidade” é o que se demonstra quando um cidadão comum deixa de cumprir seu dever consigo mesmo.
Não existe sustentabilidade sem ações de todos, bem como não haverá futuro sem que haja realmente uma mudança nos afazeres diários de cada membro da sociedade. Sim, por mais simples que seja não jogar no chão um papel de bala, essa atitude pode contribuir com a qualidade de vida dos seres vivos na Terra. Cabe, pois, a cada um, rever seus conceitos e refletir: O que realmente é preciso fazer para preservar o planeta? Até quando o consumismo, a manipulação e a má educação irão prevalecer nesta civilização?
Ora, quem promove a mudança em Estado democrático é o soberano, e esse soberano é o povo; e esse povo sou eu, é você. Portanto, antes de aceitarmos qualquer condição que nos é imposta, devemos analisar o que realmente está sendo proposto e qual a verdadeira intenção por trás de tal proposta. A mudança é possível; basta que todos queiram e atuem sustentavelmente.
* Aline Cardoso Batista: Acadêmica do curso de Direito da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.
* Vanessa Cristina Lourenço Casotti Ferreira da Palma: Professora do curso de Direito da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.