A Confederação Nacional da Indústria, em parceria com o Ibope, realizou pesquisa nacional divulgada em outubro. Intitulado Retratos da Sociedade Brasileira: Segurança Pública, o estudo faz um amplo levantamento. Seus resultados apontam o medo e a frustração dos brasileiros com a segurança (30% dos entrevistados sofreram diretamente violência nos últimos 12 meses e 80% presenciaram atos de violência e criminalidade nesse período) e também a esperança de maior rigor da sociedade no combate ao crime.Ao serem apresentados a uma lista de 23 problemas nacionais (nas áreas de saúde, educação, segurança, etc), os entrevistados colocaram a segurança pública e as drogas no topo – segundo e terceiro principais problemas do Brasil – que somados, totalizam 56% das manifestações.Nada menos que 80% dos pesquisados declaram que mudaram seus hábitos em razão da violência. Em 56% das famílias com renda superior a 10 salários mínimos e 55% das famílias com renda entre 5 e 10 salários mínimos, os cuidados com a segurança foram reforçados nos últimos três anos. Em cidades com mais de 100 mil habitantes e nas capitais, 49% dos residentes afirmaram ter aumentado esses cuidados. A pesquisa mostra, ainda, como a violência vem restringindo a circulação da população pelas cidades: 54% dos entrevistados evitam sair à noite, 48% deixaram de circular por alguns bairros ou ruas e 36% mudaram o trajeto entre a residência e o trabalho ou a escola.Mais da metade dos entrevistados – 51% – consideraram ruim e péssima a segurança pública no País (somente 12% a avaliaram com ótima ou boa). E no que diz respeito às instituições envolvidas na questão, as Forças Armadas e a Polícia Federal foram as que mais se destacaram positivamente, consideradas mais eficientes (a população apoia o uso das Forças Armadas no combate ao crime), enquanto o Congresso e o Poder Judiciário ficaram na lanterna, tidas como as mais ineficientes em assuntos de segurança pública. Num contexto onde o pessimismo prepondera, as Formas Armadas foram avaliadas como ótima ou boa por 63% dos entrevistados, e Polícia Federal alcançou 60%, mostrando a confiança da sociedade brasileira nessas instituições.No que diz respeito à atuação policial nas cidades dos entrevistados, enquanto 21% acreditam que a prestação de serviços melhorou, 19% avaliam que piorou. Na escolha das ações principais para melhorias no atendimento à população, destaque para o aumento de salários (42%) e melhor formação profissional (41%). Mas os entrevistados não se esqueceram da punição exemplar aos maus policiais, assinalada por 37% dos pesquisados como medida a ser adotada para melhorar o desempenho da polícia. Há, ainda, a consciência de que a polícia precisa ser melhor equipada – item destacado por 36% dos entrevistados.O fato é que apenas 15% dos pesquisados perceberam alguma melhora na segurança pública, nos últimos três anos, sendo que para 37%, a situação piorou ainda mais. O que se vê são anseios por uma atuação firme frente ao tráfico de drogas (para 58% dos entrevistados, essa é a principal medida contra a criminalidade).
E apesar de clamar pela repressão ao crime, por meio de várias ações, a população entende que as políticas sociais surtem melhores efeitos para reduzir a criminalidade, sem deixar de lado a punição aos criminosos, com penas duras para os crimes mais violentos (destacada por 27% dos entrevistados). Inclusive, com redução da maioridade penal para 16 anos – posição expressa pela maioria dos entrevistados. Ressalte-se que os pesquisados, em sua maioria, também se manifestam favoráveis às penas alternativas à prisão, em caso de crimes de menor gravidade.Diante da pesquisa, muita gente se pergunta: Para que saber, estatisticamente, como se sentem os brasileiros? O que se espera é que levantamentos relevantes como este sejam considerados pelas autoridades competentes, estimulando e subsidiando a tomada de decisões importantes para a melhoria da segurança pública. A população brasileira necessita de ações planejadas, efetivas e transparentes, inseridas no bojo de uma política nacional de combate à criminalidade.
Erasmo Prioste é graduado em engenharia, especialista em segurança de patrimônio, delegado regional do Sesvesp e diretor comercial do Grupo Segurança