Pesquisas, sondagens, estudos, análises de especialistas e, principalmente, queixas de desanimados e frustrados jovens apontam para a mesma constatação: a falta de experiência prática é a grande barreira para o acesso ao mercado de trabalho formal, aquele dedicado a atividades lícitas e balizado pela lei. E, o que é pior, junta-se a inexperiência a baixa escolaridade. Segundo estatísticas oficiais, o desemprego juvenil é 3,5 vezes maior do que entre adultos acima de 25 anos, número que remete nosso tema para a categoria de (mais um) grave problema nacional.
Embora sejam louváveis em suas intenções, as recentes tentativas de atenuar o quadro – caso do programa Primeiro Emprego e da Lei da Aprendizagem – não fazem a solução decolar. Uma das principais razões do insucesso obriga a bater na velha tecla da falta de flexibilidade das leis trabalhistas, que inviabiliza a adoção de modalidades de contratação adequadas a cada caso e circunstância. Não há como negar que dar emprego de carteira assinada a um jovem sem experiência gera custos e responsabilidades adicionais para a empresa com treinamento, que se somam aos pesados encargos trabalhistas, incluindo as despesas com eventual demissão, caso ele não adapte à função ou às exigências do processo de produção. Portanto, é compreensível que, entre o nosso jovem e um candidato experiente, o recrutador opte pelo segundo.
Nesse cenário, há décadas o estágio vem comprovando sua eficácia para alterar essa realidade, funcionando tanto como porta de entrada do jovem no mundo do trabalho, quanto como fonte de recrutamento para a empresa, que passa a dispor de um período de até dois anos para avaliar o novato. O impacto positivo dessa modalidade de capacitação é reconhecido pelos professores como poderoso estímulo ao melhor desempenho do aluno em classe, tanto no aprendizado das matérias quanto no comportamento, mais responsável, mais participativo e mais sociável. Número crescente de gestores de empresa – de presidentes a supervisores entrevistados pelo CIEE – encara o estágio como um promissor início de carreira para o estudante, até porque boa parte deles vivenciou esse ponto de partida, fazendo parte dos 64% de estagiários que acabaram efetivados. E ambos os lados apontam um papel adicional para o estágio, que é aproximar a escola da empresa, dois universos ainda separados por um largo fosso, com evidentes prejuízos para o próprio desenvolvimento nacional.
No momento atual, quando as mudanças abruptas nas normas legais e a crise financeira mundial impactam negativamente a já escassa oferta de vagas, avulta a importância de não só preservar como estimular o estágio, sob pena de condenarmos mais alguns milhares de jovens a inchar o contingente de desempregados, com efeitos altamente deletérios. A convivência de 45 anos do CIEE com futuros profissionais sinaliza que seria quase um crime ignorar o interesse de milhões de estudantes em se preparar adequadamente para entrar com o pé direito no mundo do trabalho, dispondo-se a investir tempo e dedicação para adquirir habilidades e competências profissionais raramente ensinadas em sala de aula. Uma justa medida desse interesse são os 50 mil jovens que destinaram um final de semana para participar da edição 2009 da Feira do Estudante – Expo CIEE, lotando auditórios para assistir a 70 palestras, Ou nas mais de 600 mil matrículas, efetuadas em três anos nos 27 cursos de educação à distância que nossa instituição oferece gratuitamente, com o intuito de auxiliar o desenvolvimento pessoal e profissional dos candidatos a estágio. Afinal, não existe melhor legado para o Brasil de amanhã do que um sólido e bem qualificado capital humano, lapidado desde os bancos escolares.
Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE e presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Avançados da Fiesp.
Opinião