O jogador Ronaldo e o rapper Afro-X têm idades semelhantes, são negros, pobres, viveram em locais infestados pelo crime e cometeram muitos erros por não saber lidar com o sucesso.
O jogador ficou milionário. O cantor ganhou muito dinheiro e perdeu tudo, além de ter passado sete anos na cadeia e mais sete em liberdade condicional. A diferença é que, nesta semana, um deles dá um péssimo exemplo educacional –e o outro um ótimo exemplo.
Afro-X está lançando um livro em que conta suas agruras para tentar mostrar aos jovens o que acontece com quem entra no caminho do crime (trechos do livro estão no www.catracalivre.com.br). Ele viu como se costuma respeitar a delinquência entre crianças e jovens mais pobres. Não vai ganhar quase nada com esse trabalho. "Quero ser um educador", propõe.
Ronaldo, que não precisa de dinheiro, e sabe (ou deveria saber) o que significa o perigo do álcool, especialmente nas comunidades pobres, está usando sua imagem de "guerreiro" e ídolo para convencer as pessoas a beber mais. Justo agora que ele aparece como alguém que sabe dar a volta por cima –a mensagem por trás disso é que os guerreiros, os fortes, podem e devem beber. É, portanto, um deseducador.
Não vi nenhuma gravidade nas trapalhadas sexuais de Ronaldo –afinal, ele faz o que quiser com sua vida e ninguém tem nada com isso. Grave mesmo é ele usar seu prestígio entre as crianças e jovens para estimular o consumo do álcool.
Seria bom que ele aprendesse alguma coisa com os exemplos de Afro-X.
Gilberto Dimenstein é jornalista e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz