O recente avanço econômico brasileiro, que viabilizou nossa consolidação como um país de classe média, implicou em mudanças geoeconômicas significativas que, somente agora, começam a ser apontadas pelos institutos de pesquisa. Um estudo recente da IPC Marketing identificou uma das faces mais interessantes deste “novo milagre” econômico: o crescimento da participação do interior dos estados no consumo total das famílias. Feito a partir de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento apontou que, nos últimos dez anos, a participação das 27 capitais recuou mais de quatro pontos percentuais no total consumido pela nação.
Em São Paulo, o desenvolvimento econômico do interior trouxe resultados ainda mais surpreendentes. Uma das áreas mais ricas da América Latina, a região deve se tornar o maior mercado consumidor do Brasil, superando, ainda este ano, a Grande São Paulo. Segundo a consultoria, a expectativa é de que o interior consuma R$ 382,3 bilhões em 2012 (50,2% de todo o consumo do Estado), contra os R$ 379,1 bilhões (ou 49,8% do total) previstos para a região metropolitana.
Tal fenômeno, que, se observado com o distanciamento devido só apresenta aspectos positivos para o desenvolvimento do país, resulta de contingências nem sempre agradáveis para os empresários instalados nas capitais: os preços exorbitantes dos terrenos, o alto custo da mão de obra e a saturação das vias de escoamento da produção, entre outros gargalos.
Muitas empresas têm procurado custos menores e maior competitividade migrando para novos polos de desenvolvimento, muitos deles localizados no interior dos estados. O resultado é, invariavelmente, uma melhoria na qualidade dos empregos, o crescimento da massa salarial, mais consumo e, claro, uma multiplicação nas possibilidades de negócios.
Em algumas cidades, a migração de empresas e o circulo virtuoso por elas gerado conta, ainda, com um estímulo extra, que não pode, e não deve, ser desprezado. É de conhecimento público a importância do agrobusiness para economia brasileira. Embora os críticos insistam em dizer que apenas alguns poucos produtores se beneficiem desta atividade, o fato é que a riqueza gerada pelos negócios do campo é um importante fator de estímulo para outros setores da economia.
A cidade de Ribeirão Preto, onde atuo no ramo gráfico desde 1970, por exemplo, é, hoje, o mais importante polo prestador de serviços e comércio de todo o nordeste paulista. Padrão semelhante de desenvolvimento começa a ser observado em outras regiões brasileiras. Como Ribeirão Preto, em São Paulo, Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, aproveitou a produtividade de seu agronegócio – a cidade é responsável por 1% de toda a produção de soja do país – para impulsionar seu segundo ciclo econômico, por meio da concessão de incentivos para a instalação de indústrias de transformação em seu território.
Exemplos semelhantes de círculos virtuosos de crescimento em cidades antes vistas como “pouco significativas” economicamente podem ser observados em vários outros Estados brasileiros, como Pernambuco, Ceará, Paraná etc. Em todos estes lugares, as possibilidades para a indústria gráfica não poderiam ser melhores. É, inclusive, por acreditar na força do interior, que nossa Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) configura-se como entidade federativa, com regionais e seccionais espalhadas por 22 estados brasileiros. Afinal, onde há consumo, há oportunidades. E, cada vez mais, as oportunidades estão no interior.
*Levi Ceregato é empresário gráfico e presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP).