É inacreditável o descaso que existe com a saúde pública brasileira. A população parece encontrar cada vez mais hospitais sem equipamentos, sem médicos, sem ambulâncias. No entanto, por mais incrível que possa parecer, nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é referência em todo o mundo, embora não funcione conforme o esperado…
É uma vergonha o Governo Federal propor a criação de um novo imposto nos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e de Direitos de Natureza Financeira, conhecida popularmente por CPMF, para arrecadar mais dinheiro, alegando que a arrecadação não é suficiente pra custear os gastos. Será que não há alternativas para solucionar o problema além do aumento na arrecadação?
Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), as receitas federais cresceram. Em 2007 arrecadou-se R$619 bilhões (com a CPMF em vigor), já em 2011, R$1,1 trilhão (sem CPMF).
Apesar do aumento a saúde não recebeu investimentos ou gastos da mesma ordem. Os gastos ou investimentos na área elevaram-se 52%, enquanto o aumento da arrecadação aumentou 77%. O que está havendo com a saúde pública é a inversão de prioridades. A preocupação do governo esta voltada a outros setores, mesmo tendo a saúde como um dos aspectos mais importantes para a população.
Basta ligar a televisão para depararmos com casos envolvendo problemas na saúde. Ora é paciente morrendo por falta de atendimento, ora são desacertos médicos. Talvez fatores como a falta de infraestrutura, medicamentos, excesso de trabalho e de pacientes possam explicar isso.
A espera nas filas tem sido cada vez maior. Hospitais lotados, poucas ambulâncias para atender a população, e ainda querem tirar mais dinheiro do povo brasileiro… Que vergonha!
Infelizmente presenciamos “celebridades” em tratamento médico, sejam políticos, sejam músicos, atores ou atrizes, mas todos em hospitais particulares de alto padrão. Será que é por isso que nada é feito pela saúde pública? Quem tem dinheiro paga por bons planos médicos ou paga pelo atendimento. E quem não tem? Fica na fila?!
Ao aprovarem o aumento dos salários dos parlamentares não pensaram no impacto dos cofres públicos. Cada deputado emprega mais de 20 assessores. Quanto custa isso? E as tantas falcatruas que vêm sendo feitas em muitas prefeituras pelo Brasil afora. Cadê a justiça para tomar de volta o que muitos governantes desviaram? Ainda que se fale muito em equilíbrio fiscal, não podemos prejudicar áreas essenciais como a saúde para atingir tal estabilização.
Apesar de não existir uma boa gestão dos recursos, há outro fator que atrapalha o desenvolvimento das políticas de saúde: a corrupção. Segundo a constatação de Tomada de Contas Especiais encaminhadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estima-se que R$ 2,3 bilhões foram desviados entre janeiro de 2002 e junho de 2011. Que vergonha!
Apesar de existirem regiões com a saúde pública em melhores condições, temos que lembrar que a sociedade civil trabalha muito por isso. Muitas das Santas Casas vivem com a ajuda da comunidade por meio de leilões, eventos, sorteios de prêmios e doações. Assim, pode-se ver que o problema da saúde pública não está somente em uma região, mas sim em todo o país. Torna-se necessário que sejam tomadas providências, urgentemente, para solucionar tal problema.
Embora saibam que os investimentos não vêm sendo bem planejados e fiscalizados, quem sofre com tudo isso é a população brasileira que depende da saúde pública. É frustrante passar horas em um hospital para ser atendido, ficar em macas nos corredores.
Não podemos concordar com o descaso nos atendimentos prioritários e ver muitos cidadãos morrerem por demonstrações de desinteresse, desrespeito ou desleixo.
A população precisa sair desse “mundo de ilusões” e acordar para o que está acontecendo. Reivindicar melhores condições e não permitir a criação de novos impostos.
Devemos exigir modificações para essas circunstâncias, já que não estão em conformidade com as leis ou a justiça. Afinal, a questão não é somente financeira, mas, sim, de atingir um direito, tendo como prioridade a vida. Esse é o mínimo para se adquirir, plenamente, a dignidade.
Sumayra Gomes Yura é Acadêmica do Curso de Administração da UFMS
Marçal Rogério Rizzo é Economista e Professor Doutor da UFMS