Ser motociclista não é fácil. Comemorar então, mais complicado. Apesar de no dia 27 ser o Dia do Motociclista o que vemos ainda é a triste informação de que somos as maiores vítimas do trânsito das cidades. Atualmente morre um motociclista a cada duas horas em São Paulo, fora aquelas que ocupam hospitais por meses e são obrigados a encostar na previdência. A maior reflexão é de que não somos observados pelas autoridades administrativas, que impõem aos motociclistas e motoqueiros, agressivos quebra-molas, buracos pelas ruas, tampas de bueiros mais baixas que o asfalto, defensas de esquinas construídas com trilhos de trem, “olhos de gatos” perigosos aos pneus, caçambas não sinalizadas, areia nas curvas das ruas, divisórias de avenidas altamente arriscadas, falta de sinalização adequada, ruas estreitas, guard-rails mortais em rodovias, enfim, a comemoração não é satisfatória. De outro lado, ainda que os acidentes mostrem todos os dias pilotos de motos arrebentados ou mortos, o discernimento ainda é bastante precário. Não é surpresa sair pelas ruas e verificar entregadores em suas motos à toda velocidade, capacetes não afivelados ou fora da prazo, viseiras sujas, motocicletas descuidadas com transmissão estragada, pneus carecas, freios no sacrifício, passando pela direita e com pressa, agindo como se estivessem em pistas de corrida, ultrapassando os sinais vermelhos, falando ao celular em plena condução, desatentos ao tráfego, costurando entre veículos, parando sobre as faixas, onde existem, andando nas ciclovias, enfim, uma quantidade tão grande de infrações de assustar tailandês. Um produto que deveria ser alvo de lazer e facilitar o trabalho se tornou um meio fácil, fácil de ser uma arma letal na mão dos incautos e despreparados. Pela quantidade de motocicletas nas ruas e pela qualidade dos pilotos saindo do forno, muitos sem carteira, pode-se imaginar que tudo isso não vai terminar tão cedo, aliás, será cada vez pior. Discriminar não, mas, imperioso analisar esses aspectos e escolher ser a próxima vítima, o motoqueiro ou o motociclista.
*Antônio Carlos Garcia de Oliveira – promotor de justiça e motociclista há 37 anos