Veículos de Comunicação

Opinião

Será Que Vamos Morrer Estudando?

Quando eu entrei na faculdade em meados da década de 90, me lembro muito bem do primeiro dia de aula, mais precisamente da primeira aula… matemática…
Eram 107 pessoas dentro da sala de aula, que assim como eu, iniciavam o curso de administração de empresas, cada um com seu sonho e em busca de um objetivo.
O professor da disciplina (Profº Wilson Pavão) começou a aula fazendo o seguinte questionamento: “Vocês tem certeza que preferem gastar o suado dinheirinho de vocês em um curso de graduação de quatro anos? Não seria melhor vocês colocarem esse dinheiro todo mês na poupança? Afinal de contas quantos administradores se formam a cada semestre no país? Daqui a quatro anos, quantos administradores terão se formado na frente de vocês?”
Confesso que fiquei um pouco indignado com as colocações que ele ia fazendo, mas não pude deixar de pensar que realmente dezenas, centenas ou talvez milhares de pessoas no país se formariam primeiro que eu, e teoricamente, eu disse teoricamente, teriam privilégios por conta disso.
Hoje eu consigo entender o que o Profº Pavão queria dizer, na verdade não importa quantas pessoas se formam antes de nós, o que realmente importa é o que cada um consegue agregar de valor, de conhecimento durante a vida acadêmica, e olha que hoje em dia as coisas estão bem mais fáceis, temos ao nosso favor a internet que é uma ferramenta ainda pouco explorada pelos alunos de graduação se compararmos com alunos de outros países.
Naquela época, que na verdade nem faz tanto tempo assim, as pesquisas eram feitas única e exclusivamente nas bibliotecas, hoje você é capaz de consultar publicações na íntegra na internet e acessar a biblioteca de qualquer universidade em qualquer parte do planeta. Mas é preciso tomar cuidado, pois apesar da internet ser um facilitador na vida dos pesquisadores, é preciso filtrar as informações nela contidas. Prefira o Google acadêmico, a biblioteca das universidades federais (USP, UNB, UFRS, etc…)
Alguns autores dizem que estamos entrando na era do conhecimento, ou da revolução cognitiva, sendo assim as pessoas que tiverem mais “informações” terão (pelo menos eu acredito) as melhores oportunidades. Daí a importância de uma boa rede de relacionamentos, mas isso é assunto para outro artigo.
Não podemos esquecer também que a velocidade com que as informações chegam até nós são infinitamente maiores do que na década passada. Hoje quem sai de casa de manhã ouvindo música e não se preocupa em ouvir uma rádio de notícias corre o risco de chegar ao trabalho defasado de informação em até 12 horas, se levarmos em conta que a Ásia está mais ou menos essa quantidade de horas a nossa frente.
Vamos fazer outro exercício rápido, um aluno de graduação ao final do curso, normalmente leva dois meses para a tão sonhada e esperada colação de grau, depois disso o diploma vai para Brasília para ser devidamente registrado, e leva mais uns oito meses para retornar, logo, o diploma leva em média dez meses para chegar até as mãos do formando após a conclusão do curso.
Quando você retirar o seu diploma de graduação na secretaria da instituição e correr para casa todo orgulhoso, seus conhecimentos estarão mais ou menos um ano defasados, e fatalmente você terá que retornar ao banco da faculdade para reciclá-los.
Claro que existem as pessoas que procuram uma faculdade porque precisam apenas do diploma, e eu entendo isso perfeitamente, mas não é sobre essas pessoas que eu estou falando, me refiro as pessoas que realmente entendem que a saída é investir no conhecimento, pois é a única coisa que realmente agrega valor quando se saí da faculdade. Quantos alunos passam anos dentro de uma instituição sem ao menos saber onde fica a biblioteca ou o laboratório de informática? Sem explorar, ou como eu costumo dizer, sem sugar o cérebro dos professores de canudinho em busca do saber?
Bom, se você é uma das pessoas que como eu realmente acredita que o conhecimento é a única saída para quem quer sobreviver e vencer a essa nova realidade que se apresenta, bem vindo ao clube, pois sinceramente acredito que vamos morrer estudando, ou então seremos apenas mais um (talvez com diploma) na multidão.

 Paulo Eduardo Ribeiro é Mestre em Psicologia da Saúde