É evidente que a Grécia sairá dos mantos da zona do euro. Essa situação poderá representar, de acordo com estimativas já efetuadas, um prejuízo de US$ 1 trilhão. O problema não é somente a perda estimada. Vai muito além de simplesmente um calote: a liberdade da Grécia de voltar à rotina anterior à adesão ao bloco de nações e assumindo sua responsabilidade interna.
A recente derrota eleitoral de Nicolas Sarkozy, que perdeu a Presidência da França, acabou apimentando a cobrança de austeridade na redução do endividamento público do bloco. Uma melhor análise dos recursos vertidos através da emissão de títulos públicos com juros, cada vez maiores e sem perspectiva de amortizações no futuro, colocou em xeque as políticas econômicas estabelecidas pelos países integrantes do bloco.
O que já deixa clara a saída da Grécia é a busca de assessoria de outros países que promoveram a dolarização da economia e que tiveram problemas internos com a sua moeda local, como é o caso da Argentina. Deixando de lado os reflexos da situação, que vai gerar dúvidas no mercado internacional, a situação vivida pela Grécia, Espanha, Portugal e Itália vem demonstrando a dificuldade da gestão de uma moeda única em países de economias e regimes políticos diferentes.
Manter a unidade é difícil e essa experiência poderá justificar mudanças nos grandes blocos, gerando uma análise mais profunda da globalização. Para a Grécia, a carta de alforria é o melhor caminho, mas terá de mudar toda a política interna, voltar ao uso de sua moeda local, investir na produção com um aumento gradativo da empregabilidade, redução dos gastos públicos internos e uma negociação do seu endividamento que não gere problemas relacionados a uma moratória cada vez mais evidente.
Após a mudança da nota dada pela Fitch Rating, de B- para CCC, indicando que o investimento efetuado é altamente especulativo, o mundo voltou a se preocupar com o futuro dos grandes blocos e o reflexo da perda financeira causada por uma moratória iminente da Grécia. Ainda existem líderes que apoiam a ajuda financeira e a manutenção da Grécia na zona do euro, mas muitas das decisões dependerão das eleições que ocorrerão no país.
A Grécia, livre do bloco econômico, terá a oportunidade de mudar e demonstrar ao mundo que poderá transformar-se em um país diferente. Caso contrário, poderá apenas contar com a sua história,pelas suas grandes vitorias do passado e ser lembrado como o país estopim da catástrofe econômica sem limites, avalizado pelo Fundo Monetário Internacional e pela União Europeia, grandes atores responsáveis pela sua falência.
Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da FASM (Faculdade Santa Marcelina).