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Opinião

Sobre a MS 112

A  ocupação da margem esquerda do rio Sucuriú  da sua foz até a sua nascente, desde os seus primórdios, foi feita principalmente por mineiros e paulistas. Faziam a criação extensiva de gado bovino e a agricultura de subsistência. O comércio  da vasta região era feito com Coxim, no Mato Grosso, e Uberaba, no estado de Minas Gerais.

Após a transposição do Rio Paraná em 1911 pelos trilhos da NOB e consequente aparecimento do povoado de Três Lagoas, fez  aqui surgir um novo polo comercial que atraiu toda região em referencia , ultrapassando os seus limites no rio Aporé e chegando a Jataí(GO). O transporte se fazia a pé, a cavalo e/ou carro de boi. Meu avô materno Olimpio Luiz Azambuja (1869-1937), saia de sua fazenda Barreiro próximo  a Inocência, ora a pé trazendo manada de suínos, ora a cavalo para as tratativas comerciais ou então com seus carros de bois, trazendo o que produzia e no retorno levava as mercadorias de suas necessidades aqui adquiridas, principalmente o sal para o trato do seu rebanho. Posso afirmar que esta seria a rotina da grande maioria daqueles que habitavam  a região. E os seus caminhos eram trilhas que se convergiam para um eixo principal que chegava a Três Lagoas. Assim nasceu a MS 112.

Estas trilhas tiveram a sua primeira melhoria por volta de 1929, quando um cidadão radicado em Jataí(GO)  e que posteriormente migrou para a região do Aporé(GO) com grande influencia em Cassilandia(MS), Sr  Juvenal Rezende que reuniu um grupo de trabalhadores braçais  e a golpes de foices, machados e enxadões, abriram um grande picadão a partir da barranca esquerda  do rio Sucuriú  próximo a Três Lagoas passando  por  Inocência, procurou as águas do rio Aporé, cruzou a divisa dos estados (MT e GO),  chegando  a  região de Jataí(GO) . Neste momento  os caminhões  implementam  um novo perfil no transporte de cargas e passageiros da região.

 A picada era  pelos espigões procurando a melhor passagem , contornando  os capões e as nascentes ou  as vezes atravessando riachos  no seu próprio leito ou em  pontes sempre muito precárias.As viagens eram noturnas para não ferver o motor  dos caminhões no esforço a mais que se faziam necessários   para vencer as bancas de areia que se formavam nas curvas e baixadas. Na estação das águas eram as poças e pocinhas  nos espigões ou então  os atoleiros  nas barrancas íngremes e longas dos riachos.Era uma verdadeira luta para transpor as dificuldades que se punham no caminho daquela gente batalhadora e desbravadora.A conservação destas trilhas pelo serrado inexplorado era feita no pneu do caminhão que circulava, sem qualquer tipo de assistência do poder publico.
Era chegado o momento de alguma melhoria. Foi então que o prefeito de Três Lagoas, o Sr Marcolino Carlos de Souza(1947-1950), retificou o caminho implantando as grandes retas com auxilio de  homens e maquinas.Usou  maquina de esteira pela  primeira vez(Patrola?)para implementar as melhorias até o ponto do Izidorio, nos limites do seu município.Após este trabalho houve um grande avanço no comercio com o patrimônio de Bocaina, hoje a bela e progressista Inocência quando as primeiras casas comerciais lá se estabeleceram( o boteco do  Totucha, o Saran, os irmãos Jaime e Antonio David e muitos outros) comercializando os secos e molhados para aquela região que se desenvolvia a passos largos, sendo elevada a condição de município em 1959.

Em 1953, com 9 anos de idade, fiz a primeira viagem a Três Lagoas. O caminhão azul do Farid Zogbi  carregado de sacas de arroz e outras mercadorias, saiu de Bocaina numa tarde, viajou parte da noite, dormiu sob a proteção do Tamarindo no Izidorio , partiu com a aurora do dia seguinte e adentrou em Três  Lagoas no entardecer do mesmo dia. Era uma verdadeira epopéia empreendida pelos bravos camioneiros que homenageio ao citar o saudoso Farid da “Mão Verde”.

Na década de 1960 e na sequencia veio a primeira  grande transformação da região, a substituição do serrado pela brachiaria. De um lado os caminhões carregados de carvão com destino aos mercados consumidores de Minas e São Paulo e por outro lado os caminhões de boi  gordo  quase sempre com  o  mesmo destino. A estrada cada vez mais precária, erosões, buracos, bancas de areia, pontes caídas, etc  com  manutenção cada vez mais difícil e sob a responsabilidade dos governos estaduais que se sucederam.

Agora não são mais as trilhas dos anônimos, a picada do Juvenal  Rezende e nem as retas do Totó, mas a MS 112 que pulsa o progresso na região como pulsa o sangue nas veias de homens e mulheres sonhadores e as primeiras reinvidicações para o asfaltamento surgem por todos os lados, nas salas das fazendas, nos  encontros nos pontos  Moreira, Cazuza, izidorio e São Pedro, reuniões em Três Lagoas e Inocência, culminando com as marchas de  produtores para a capital Campo Grande. Foi uma movimentação intensa e memorável.

Vi dois sindicatos, os  Sindicatos Rurais de Três Lagoas e de Inocência, cumprirem com zelo e determinação na organização de seus filiados, exigindo vigorosamente da classe política regional o indispensável apoio  junto ao governo do estado para a concretização de seus ideais que era o asfaltamento da MS 112.

Vi  o  caráter equilibrado e honrado de dois homens públicos em circunstancias diferentes e delicadas para o momento. Um foi  Wilson  Barbosa Martins em 1982 na sua campanha eleitoral  para o governo do estado ao receber uma delegação de mais de cem produtores, não prometeu o asfaltamento  por saber não haver recursos  viabilizados para executá-lo e  outro foi o atual governador Andre  Puccinelli  que nas varias oportunidades em que foi pressionado pelos produtores se manifestou sensível a reinvidicação e só anunciaria o asfaltamento com o devido recurso viabilizado.Parabéns aos dois pela bela lição…

Chegou o momento da  implantação da cultura do eucalipto e nova transformação da paisagem e da economia regional. Estão aí duas gigantes da transformação da celulose extraída do eucalipto em  papel , a pioneira Fibria em pleno funcionamento e a Eldorado em adiantado processo de instalação. Não é mais a cultura de subsistência ou as pastagens de brachiaria. O eucalipto impôs um novo perfil a economia regional e o asfaltamento da MS 112 no seu segmento Três  Lagoas -Inocência se tornou necessidade imediata.

Coube ao eminente governador Andre Puccinelli que entendeu a prioridade da reinvidicação, e agora sim, projeto definido  e verba no caixa, data para começar e data para terminar ,mandar  asfaltar a MS 112 numa extensão de 108 km no trecho compreendido entre o trevo de sua origem na BR 158 até o trevo de entroncamento da MS 377, próximo a Inocência.

Já tive o privilegio de percorrer por varias vezes pela nossa  MS 112 nesta fase de conclusão, a última foi com meus pais agora provectos,  e vi o sorriso nas suas faces e o brilho de seus olhos,foi momento de muita emoção por mim vivenciado.Estas emoções não são somente nossas, minhas e de meus pais. São também emoções de todos os sonhadores com esta rodovia e também daqueles que já se foram para outro plano espiritual, cujo testemunho é o sorriso e o brilho nos olhos dos seus descendentes que estão trafegando  pelo chão preto da MS 112  com cuidado e atenção nas retas do Totó  espremidas  aqui e acolá pelas florestas eucaliptais, símbolo do nosso progresso e na sequencia pelas  longas curvas harmoniosas que passam por São Pedro e chegam a cidade  do romance,Inocência.

Eminente governador Andre Puccinelli, obrigado pela maravilhosa e moderna rodovia.Percebo intensa movimentação nas cabeceiras do Aporé. Precisamos chegar em Cassilandia. Parabéns pela brilhante e profícua administração que realiza em todo o nosso Mato Grosso do Sul. Que Deus  o proteja…

Adir Pires Maia, médico em Três lagoas