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Opinião

Sobre as demissões em massa no frigorífico de Paranaíba

São 530 chefes de família a perder sua fonte de renda

Semy Ferraz (*)

Vemos com profunda perplexidade o anúncio da demissão de 530 trabalhadores do Marfrig, de Paranaíba, a partir desta segunda-feira. Segundo a nota da direção, tomou-se essa medida “por motivos estratégicos e de reavaliação de negócio, devido à pouco disponibilidade de matéria-prima na região e à ociosidade da perspectiva da planta”.

É de pasmar tal decisão, pois, há menos de três semanas, em contato com responsáveis pelo referido frigorífico, não havia qualquer preocupação – e muito menos indício – que justificasse tamanha calamidade. Além do impacto social perverso, essa avalanche de demissões causa um verdadeiro caos à economia local.

Afinal, são 530 chefes de família a perder sua fonte de renda num universo populacional de 42 mil habitantes (população aproximada por estimativa do IBGE de 2014). Isso sem se levar em conta que o salário médio desses trabalhadores é de quase dois salários mínimos – portanto, membros de um importante segmento de consumidores no mercado da região.

Por outro lado, a característica dos empreendimentos rurais de Paranaíba é de pequenos e médios produtores rurais, em um número aproximado de 1.300 pecuaristas com pequenos rebanhos de corte e de leite. O encerramento das atividades desse frigorífico, ainda que temporário, causará um estrago ainda maior, se levarmos em conta a desestruturação súbita da cadeia produtiva, num momento em que a economia se encontra retraída e o mercadoexige mecanismos articulados de enfrentamento.

Segundo dados disponibilizados pela entidade que representa os abatedouros e similares do estado, com o fechamento desse que é o maior frigorífico da região de Paranaíba, já são 16 frigoríficos a encerrar suas atividades e demitir mais de sete mil e quinhentos trabalhadores em menos de um ano. É fundamental que, em escala estadual e nacional, haja uma resposta política, ou melhor, de política pública, capaz de alavancar medidas alternativas que atenuem e absorvam os fatores de desequilíbrio da crise no setor.

Mas não percamos de vista, a propósito, os malefícios da cartelização da indústria da carne e dos laticínios. Além de medidas de alto impacto, como no caso das demissões, quem produz não tem a remuneração justa: os preços praticados pelos atravessadores são aviltantes, pois, no caso do leite, os produtores da região recebem hoje, no máximo, R$ 0,95 por litro, enquanto ao lado, nos estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, paga-se até R$ 1,35 por litro.

Reiteramos, a demissão de 530 trabalhadores do Marfrig é uma evidente ameaça ao equilíbrio social de toda a região, que tem na pecuária a sua base econômica e razão de ser. Por isso mesmo, mais que uma mera medida administrativa, é um atentado à dignidade e à paz social da cidadania sul-mato-grossense. E permanecer inerte é um gesto de irresponsabilidade, ou melhor, uma atitude criminosa.

Se levarmos em conta que em Mato Grosso do Sul a pecuária de corte e de leite representa um segmento econômico fundamental, é urgente que os agentes econômicos, sociais e políticos – em outras palavras, lideranças empresariais, trabalhadores, produtores rurais, prefeitos da região, Bancada Federal, Delegacia Federal da Agricultura, Assembleia Legislativa, Governo do Estado, Governo Federal, etc – abandonem as diferenças e somem numa grande ação para a solução imediata para esta dramática crise que avilta a dignidade de todos.

Por isso, conclamamos, como paranaibenses e sul-mato-grossenses, à união por Paranaíba, em defesa da manutenção dos empregos, e em defesa, em última análise, da vida, da paz, da dignidade e do progresso da família paranaibense.

 

* Semy Alves Ferraz é engenheiro civil, ex-deputado estadual e ex-secretário de Infraestrutura, Transportes e Habitação de Campo Grande.