O penúltimo round da disputa entre Dilma Rousseff e José Serra pela cadeira de Lula teve como palco os estúdios da TV Record, na madrugada desta terça-feira. Madrugada sim! Um debate entre presidenciáveis marcado para às 23 horas de uma segunda-feira é a definição meridiana de deboche. Isso sem falar no tratamento desrespeitoso com o telespectador, que teve de aturar quase 15 minutos de atraso para o início do esperado confronto, em benefício das pernas, bundas e malandragens do reality show “A Fazenda”. O debate, com apresentação visivelmente tensa do jornalista Celso Freitas, terminou quase 01 hora da manhã.
Não bastasse isso, o que o eleitor brasileiro (aquele que pode ficar até a madrugada assistindo TV, mão no peito, em nome da pátria) teve o desprazer de assistir foi o maior filme de chanchada política da história da República pós-redemocratização. Dilma e Serra, bocas tortas e mãos trêmulas, protagonizaram uma palhaçada que conseguiu superar os “pornodebates” entre Collor, Lula, Brizola e Maluf no final da década de 80. Em definitivo, o circo desembarcou na disputa presidencial. Mas, se já temos até palhaço oficialmente eleito para a Câmara dos Deputados, por que não mais um (ou uma) na Presidência da República?
O debate foi um show de horrores. Foi um tal de “Pretobrás” e “Petrobrax”; “Administração Penitenciária” sendo confundida com “Administração Previdenciária” (ato falho de Dilma?!); “Plé-Sal”; escândalo “Paulo Preto” virar preconceito racial; invencionices sobre internet banda-larga já disponível em 67% das escolas públicas (de que país?!); região Nordeste “crescendo à taxas chinesas”; mentiras descaradas sobre obras inacabadas (ou nem iniciadas) e programas não implementados; a eterna chatice patrimonialista sobre as privatizações; e uma chuva de “se Deus quiser” que mais parecia uma novena de paróquia do que um debate entre os dois candidatos pleiteantes ao cargo de presidente da República.
Quem venceu o debate da TV Record? Nenhum dos dois. Apenas provaram que, sem seus marketeiros, não seriam eleitos nem a “prefeitinho” (no melhor vocabulário do senador piauiense Mão Santa). Ambos, Serra e Dilma, só conseguiram provar que a eleição do agora deputado Tiririca é mais que legítima, afinal, que graça tem um circo se só tiver um palhaço? Viva Tiririca, o novo modismo político nacional!
Helder Caldeira é escritor, articulista político, palestrante e conferencista