Acabei por ficar uma hora ensinando aquele grupo de jovens, que tos nós somos professores. Cada um em sua matéria, em sua especialidade! Pois lá íamos, em grupo, olhando as belezas do parque com suas cachoeiras. De nós se aproxima um homem de meia-idade com cara de que já tinha o dobro. A me ver, me presenteou com um largo sorriso, pelo qual, como uma janela indiscreta, deixava-nos ver os cacos de dentes com os quais roia os ossos vida. Alegre me confessou ter, no último mês, faturado um salário mínimo com as vendas para reciclagem das latinhas vazias de cervejas e refrigerantes, que junta e assim limpando o local que nós, agentes poluidores, insistimos em sujar..
Seu Gregório de sandálias de couro, pela madrugada, antes do sol se abrir e as cervejas e refrigerantes também! Passa bom tempo recostado em um banco, e assim observando os passos do sol ao amanhecer, cada movimento dos astros, ao despedir da lua! E tantas anotações feitas, como Galileu já pode ser chamado de astrônomo, porque então não de professor? Ele, que não sabe corretamente escrever, aprendeu soberanamente a ler os mapas das constelações, no caminho do universo estrelar. Quando perco o sono, caminho até o parque encontrado Gregório, que então se põem a me ensinar. Coisas que eu até possa ter teoricamente aprendido nos bancos escolares, mas não com a beleza presencial. E me aponta o Cruzeiro do Sul, me explica sobre Andrômeda, sobre a constelação Cão Maior e a Cão Menor, sobre Capricórnio; enfim me faz viajar pelas 88 constelações por nós da terra visualizas.
Por causa daquele homem, uma atenta raposa, animal que também dá nome a uma constelação, eu sei das influências na maré, consigo notar o relacionamento dos astros com meu comportamento físico. E assim foi, que eu naveguei por mares que nunca antes por mim foi navegado. Enriqueceu-me, esmo que eu já esteja próximo a abandonar qualquer fortuna da terra, guardo comigo o tesouro do baú de Gregório, que também me ensinou que tesouros não se guardam em baús de madeira que o cupim destrói, distribuem-se enquanto valem. Cada aprendizado, quando é para o bem, muda para melhor a vida do homem fazendo-o esquecer ou contornar certas dores físicas. E assim me esqueço da insônia, deixo de rolar na cama e saio em direção ao parque e lá participo de mais uma aula.
E foi por isto, porque ao se aproximar daquele grupo, naquele dia, eu o chamei de professor e o abracei desconhecendo os trapos que vestia, causando espanto aos jovens que me acompanhavam e em pensamento indagavam: “Professor de que?”. Isto me obrigou ministrar uma aula ao ar livre para dizer que cada um é um professor. Gastei feliz mais uma hora para falar de astronomia, porque afinal como aprendi; o tesouro tem que ser distribuído e eu não deveria, naquele momento, deixar passar aquela oportunidade!
Pedro Diedrichs é jornalista, editor do jornal Vanguarda Bahia, em Guanambi (BA)