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Três Lagoas

Trânsito de Campo Grande sem controle, até quando?

Confira o artigo do Arquiteto e Urbanista Fayez José Rizk

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É notório que a cada dia que passa mais nítido fica o completo descontrole do tráfego em Campo Grande
Confesso: na minha vida profissional de mais de 43 anos dedicados à mobilidade urbana, incluso a elaboração da minuta do atual Código de Trânsito Brasileiro, a concepção do RENAVAM, e a transformação do antigo DSV- PMCG na atual AGETRAN, me resta a frustração de nunca ter sido escutado pelas autoridades sobre um item essencial na mobilidade urbana: a OPERAÇÃO de tráfego.

O tráfego urbano é um dos subsistemas da mobilidade urbana e precisa ser OPERADO, isto é, planejado e controlado por agentes e com auxílio de equipamentos.

No Código de Trânsito Brasileiro conseguimos retirar o termo “policiamento” e substituí-lo pela correto: fiscalização de trânsito.
Mas operação de trânsito não se resume a fiscalização no sentido estrito do termo, não se resume a aplicar multas nas inúmeras infrações cometidas no dia a dia. Aliás, nem isso é feito, só as maquininhas eletrônicas, que de instrumentos auxiliares passaram a ser “agentes” …

Vejam por exemplo as obras públicas executadas nas vias da cidade: não há planejamento, não há a orientação local com os fiscais, trazendo prejuízos de toda ordem para a cidade.

Infelizmente, e digo com muita tristeza, apesar de bons e dedicados técnicos, a Agetran não tem por parte da administração pública – e não só da atual – a valorização de sua importância. Pelas suas características de trabalho, transversal a todas as atividades da cidade, a agência deveria ser ligada diretamente ao Gabinete do Prefeito e não ser um apêndice da Secretaria de Obras.

Isso é uma distorção absurda, é a não compreensão da importância da mobilidade urbana na vida cotidiana: essa a única atividade compulsória para todas as pessoas, desde o nascimento até a morte!
Mobilidade urbana é questão séria de Urbanismo: a operação de tráfego, aqui faltante, deve atuar em consonância com bons projetos de engenharia de tráfego e de educação.

É risível, ao que parece, a única preocupação das autoridades: a velocidade.
Placas de 50 km/h, sem nenhum embasamento técnico em vias projetadas para velocidades maiores só levam ao aumento das multas pelos radares. Só. Qual é o resultado favorável dessas multas? 

Chego a dar risada quando vejo, por exemplo, as estatísticas de vias com maior número de acidentes: sempre a Afonso Pena, esquecendo da lógica: se a via com (provavelmente) maior volume de tráfego, a probabilidade de maior número de acidentes!

Colabora com isso, infelizmente, a imprensa com divulgação de “opiniões” equivocadas de alguns “especialistas” em trânsito. Em tempo: as duas profissões legalmente habilitadas para administração, planejamento e operação de trânsito são as de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia.

Temos muito a fazer, cada cidade tem suas características, nossos motoristas (“mau toristas”), motociclistas (e motoqueiros), ciclistas e pedestres tem seus aspectos psicológicos, sociológicos, econômicos que devem ser consideradas, a cidade só dispõe de um sistema de transporte coletivo ultrapassado, anacrônico, caro, ineficiente, fatores esses que levam a uma conclusão: precisamos de um choque administrativo na questão de mobilidade urbana.

Senão, resta chorar pelos mortos ou tomar calmante para trafegar pela cidade.