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Opinião

Triste folia

Brasília fez bonito na reação à ditadura militar. Perdeu Honestino Guimarães, morto enquanto estudante da UnB; liderou o renascimento do movimento estudantil; viu carreatas levando chicotadas de generais na Esplanada dos Ministérios; votou contra Collor em 1989, participou ativamente dos grandes movimentos pela redemocratização do país. Para dar nisso…
A guinada maldita, que gerou todos esses escândalos, começou ainda no final da década de 1980, com o Brasil fervilhando com a Constituinte. Foi aí o primeiro governo, o único por nomeação, de Joaquim Roriz no DF. A partir de 1990, os governadores passaram a ser eleitos e Roriz teve mais três mandatos, somando 12 dos 20 anos de poder desde então. Os velhos militantes de esquerda foram anulados ou engolidos pelo esquema Roriz. Tudo e todos giram à volta dele, ou como aliados, ou como seus adversários diretos. Ele é o polo de poder.
Foi assim que Roriz produziu José Roberto Arruda, o primeiro governador preso por corrupção depois da ditadura, e que agora passa o Carnaval na cadeia. Foi assim que Roriz criou o empresário Luiz Estêvão, o primeiro senador da República cassado por corrupção na democracia. Foi assim que Roriz geminou Paulo Octávio, que tenta desesperadamente se equilibrar como substituto de Arruda no governo, apesar de citado em várias circunstâncias na mesma operação Caixa de Pandora da Polícia Federal. Mas, apesar de tudo isso, e por macabra ironia, esse cenário de terra arrasada favorece o lançamento de Roriz para as eleições de outubro. Não há nomes na esquerda, insegura e incerta, e a direita está desbaratada. Então, chega de intermediários. Vem aí para o governo Joaquim Roriz, justamente onde tudo começou…
É ou não um filme de terror?

Eliane Cantanhêde é colunista de política