Nem oposição nem a base aliada ao Palácio do Planalto podem afirmar que a decisão sobre o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff está tomada. Apesar de pequena, a quantidade de deputados indecisos sobre a questão será fundamental para estabelcer o placar definitivo, que deverá ser conhecido apenas na noite deste domingo. Até lá, o balcão de apostas pode ser o melhor endereço para quem tenta acertar a decisão dos deputados.
No jogo da pressão pela “vitória” da votação, oposição e base digladiam em números e previsões. A semana foi de diversas manifestações e não faltaram as cantorias comuns ao clima de “já ganhou” tanto de um como de outro. O Palácio do Planalto tentou rechaçar a antecipação da derrota e amenizar a barulheira da oposição. Partidos que defendem o impeachment não se intimidaram com a pressão do governo, na oferta de cargos e de liberação de emendas. Até quando vai essa “independência” não se sabe.
Não foram apenas tentativas políticas, mas também jurídicas. A Advocacia Geral da União, capitaneada pelo ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ajuizou duas peças judiciais para tentar impedir a votação de amanhã. Perdeu em ambas. Não contou, inclusive, com apoio de ministros nomeados por governos do PT para o Supremo Tribunal Federal. E isto deu um lustro ao brilho do STF. Ainda bem.
É impensável, contudo, que se espere por votação serena, sem estabelecimento do clima de carnaval misturado o de comício, mesmo com as derrotas do governo e as dúvidas da oposição. É certo que os dois lados ocupam o plenário prometendo resistir até o final.
O comportamento da bancada de Mato Grosso do Sul, na votação, pode ser considerado definido. Dos oito parlamentares do Estado, apenas dois devem votar contra a impeachment – Vander Loubet e Zeca do PT, e por motivos óbvios. O único que declarou-se indeciso é Dagoberto Nogueira, do PDT. Os demais, do PMDB, DEM, PSDB e PSB votam pelo impechament.
Não parece possível, ao menos pelo que se viu no decorrer da semana, que o placar sul-mato-grossense possa se alterar. As posições são mais político-partidárias que pessoais ou de bases eleitorais. Todos os deputados do Estado têm posição mais forte vinda do partido de cada um, e isso não se muda de uma hora para outra. Trata-se de decisão estrutural, alterada apenas por decisão de cúpula. É caso de aplicação absoluta do ditado popular de que andorinha só não faz Verão.
Também é necessário analisar o que poderia mudar, num cenário em que partidos nem deputados podem se valer de privilégios, aproximação do governo ou números positivos de ações públicas. Os votos da bancada do Estado não parecem suficientes para reverter as contas da base ou da oposição ao governo e nem seria o caso, porque não haveria justificativa para isso.
E também é necessário concluir que nem um nem outro político fez consultas objetivas aos eleitores para saber o que suas bases políticas querem: a saída ou a continuidade do governo Dilma. Se fizeram consultas, não foram públicas.
Entre eleitores, o “evento” da votação na Câmara não pode ser considewrado sentença definitiva. O julgamento do pedido de impechament, será julgado pelo SEnado Federal, possivelmente no decorrer do mes de maio.A indefinição e as definições de agora perdem em grau de decisão, embora sejam fundamentais para o andamento ou não do processo.
É ainda importante lembrar o eleitor que gritaria não conta nesta hora. As manifestações de rua, protestos e a revelação do desejo de que Dilma caia ou fique já foram mais que suficientes para atingirem os deputados. Se não foram convencedoras, é certo que as manifestações trombaram com os interesses partidários de quem decidirá a questão.
Também não conta muito o que o governo diz, neste momento, após perder inúmeras oportunidades de falar mais de perto com o eleitor, negociar politicamente com os partidos, corrigir e reconhecer erros.
Os embates do governo Dilma com políticos de quase todas as bandeiras também têm grande peso nas definições e indecisões deste momento. Bater de frente com peemedebistas, por exemplo, foi um dos erros mais graves de Dilma. Turrona, a presidente ignorou a força de seu maior ex-aliado e acabou ganhando um inimigo feroz. A “sorte” do Palácio do Planalto é que dentro do PMDB ainda há setores favoráveis ao governo, que podem representar uma reação na votação da Câmara. Não se sabe, é claro, se será suficiente para reverter a contagem da oposição que, até ontem, somava mais de 300 votos a favor do impeachment, que só acontecerá se for aprovado por 342, equivalente a 2/3 dos 513 integrantes da Câmara dos Deputados.
Como na contabilidade do governo, a decisão sairá dos indecisos e não de parlamentares que possam contrariar orientações do comando nacional de cada partido. No PMDB o quadro de eleitores a favor e contra já está definido.