O Turismo brasileiro produziu notícias boas e ruins em 2011, mas, de alguma maneira, elas podem ser consideradas auspiciosas. Em verdade soa estranho que más notícias venham a se tornar fontes de esperança, mas em nosso caso, isso tem sua lógica. Senão vejamos. Para a compreensão deste raciocínio, começamos pelas boas notícias: números do Ministério do Turismo apontam que os aeroportos brasileiros registraram a maior movimentação dos últimos 13 anos, nos desembarques domésticos – projetando crescimento de 15,8% – e internacionais – aumento de 13,95%, sobre 2010.
Certamente isso ajudou a acentuar os desconfortos e contratempos com os gargalos do setor, mas denota o imenso potencial do mercado do Turismo em solo brasileiro, o primeiro ponto positivo a ser destacado aqui. Outra grande notícia que ajuda a sinalizar para um futuro promissor no segmento foi a parceria inédita selada recentemente entre o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e a Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos).
A associação a ser feita aqui é a da convergência positiva que observamos hoje entre dois mercados que têm muito a crescer e a maturidade das organizações empresariais do setor, as quais perceberam que não adianta mais ficar no jogo de soma zero. Ou seja, os ganhos de cada um podem resultar em ganhos para todos, em uma somatória que potencializa os resultados, desde que nossas estratégias estejam articuladas.
Sempre há, é certo, notas negativas, como as perdas que iremos acumular até que os primeiros resultados concretos sejam produzidos. Em função, por exemplo, da incapacidade atual de os portos brasileiros atracarem mais navios de grande porte, o mercado de cruzeiros refluiu em 2011, depois de crescer 20% nos últimos dez anos e computar 800 mil passageiros embarcados a cada período. Grandes companhias chegaram a diminuir o número de cruzeiros no ano por causa deste estrangulamento, o que gerou efeito dominó negativo sobre o comércio das localidades de desembarque, a área de transportes e alimentação e também para o ramo hoteleiro. Mas este pode ser um problema transitório e absolutamente solúvel, basta que saibamos trabalhar em conjunto, envolvendo o próprio Ministério do Turismo e a área fiscal dos governos Federal e Estadual, de forma a desenhar ações necessárias e de efeitos duradouros, estabelecer metas e prazos a serem rigorosamente cumpridos e ampliar a cultura da parceria.
Do ponto de vista do FOHB, podemos contribuir para esse avanço, cuidando para que as novas estratégias levem em conta dois aspectos centrais: que atendam a um mercado pensado em termos de longo prazo e não apenas em função dos três grandes eventos esportivos que teremos entre 2013 e 1016 (A Copa das Confederações, a Copa Mundial de Futebol e as Olimpíadas); e que ampliem sua cadeia do Turismo de lazer, de eventos e, dentro deste, o de entretenimento (espetáculos) e o de negócios, que já colocaram o Brasil entre os dez países que mais recebem encontros internacionais com esse perfil. Mais uma grande notícia, que não deixa dúvidas que passou da hora de arregaçarmos as mangas e começar a trabalhar de maneira conjunta.
Em tempo: a partir da parceria da FOHB com a Abremar, iniciaremos em 2012 os projetos de cursos de Capacitação e Qualificação da mão de obra, em cooperação técnica e profissional; programas conjuntos de Comercialização e Promoção de Destinos; e ações comuns junto ao Poder Público, com vistas a mudar o atual regime de tributação, que sobrepõe taxas e impostos e onera tanto operadores quanto usuários. Pretendemos ainda avançar em novas parcerias com os diferentes nichos relacionados ao segmento, colocando a cadeia produtiva do Turismo na rota do crescimento e desenvolvimento sustentável.
(*) Julio Serson é Presidente do Grupo Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP).