O discurso da presidente Dilma Rousseff, segunda-feira, em Caxias do Sul ,faz a gente perguntar em que planeta estaria ela nesses últimos dias. “Não é possível aceitar que no Brasil pessoas que jamais se recusaram a depor, como é o caso do Presidente Lula – nunca se recusou, sempre aceitou, sempre foi – então não tem sentido conduzir sob vara se ele jamais se recusou a ir.”
Lula depôs uma vez, no Dia de Reis, em Brasília, sobre a venda de medidas provisórias e seu filho Luís Cláudio. Para ir depor, disse ele agora, interrompeu as férias…
Nos últimos dias, até as pedras das ruas sabem que ele se recusou a depor no Ministério Público de São Paulo sobre o triplex. Conseguiu liminar para não ir dia 25 de fevereiro. Liminar derrubada, pediu habeas corpus para não ter condução coercitiva em nova intimação, dia 3; e entrou na Justiça para não responder sobre o tríplex na Lava-jato. Anunciou que não iria e o Instituto Lula emitiu nota dizendo que ele e dona Marisa não iriam.
A presidente, ao dizer que ele sempre foi, nunca se recusou, deveria estar perdida em Marte.
Lula também foi mal. Enquanto telefonava para a Presidente da República, depois do depoimento, a deputada do Partido Comunista do Brasil, Jandira Feghali, querendo agradar, começou a gravar no celular uma mensagem de áudio e vídeo, informando que Lula, ao fundo, falava pelo telefone com Dilma. E se viu e ouviu “eles que enfiem no c… todo processo”.
Uma linguagem nada republicana nem normal entre um homem e uma mulher, entre um ex-presidente e a presidente. Um estadista e inocente pediria calma a seus partidários, pediria respeito às instituições pois sua inocência restaria cristalina. Mas o que seu viu foi o ex-presidente, seguido pela presidente, escolher como adversários representantes da lei: a polícia judiciária, o Ministério Público e a Justiça Federal. Emoções são enfraquecedoras da razão.
Em 13 de março de 1964, quando discursos de Goulart, Brizola e José Serra inflamavam o povo contra o Congresso, a Igreja Católica já mobilizava a população contra a ameaça vinda do governo.
Agora, nestes idos de março, o bispo-auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, em prédica na Basílica da Padroeira do Brasil, pede que o povo tenha “a graça de pisar na cabeça da serpente, daqueles que se autodenominam jararacas… que são a personificação do mal… expurguemos o mal da nossa vida e sociedade… como Maria pisou na cabeça da serpente… por Cristo Nosso Senhor.”
Lula também foi infeliz ao se comparar com uma jararaca, que não foi atingida na cabeça mas no rabo. “A jararaca está viva, como sempre esteve”- festejou, mostrando que é atemporal, eterno.