“Lá vem um trem…correndo vem
fazendo curva… jogando apito
cheio de gente…”
Flora Thomé é professora e poetisa
Do alarido das pessoas, do sobe e desce nas estações, de funcionários anunciando cada cidade ou estação, ou ainda, alguém… oferecendo jornais, revistas ou sanduíches.. Tudo num frenesi, misturado ao toctoc das rodas nos trilhos, como num jogo permanente carregado de emoções e sentimentos de alegrias ou tristezas motivadas por chegadas ou partidas sempre de alguém… Tudo isto mais o ronco do comboio acrescido ao choro de crianças, da ansiedade dos idosos e de outras centenas de passageiros…
Para nós isto é passado. Coisas que não existem mais! Lembranças guardadas na memória onde tanta coisa vai e vem como um barco que navega em pleno mar, quer na dança do vento ou do tempo. A cada instante, o apito do trem tinha um sabor de alegria ou tristeza carregado de saudades! E de surpresas! “Hoje este mesmo apito é apenas o clamor da locomotiva que deixou de ser de nossa intimidade para tornar-se aviso do condutor de um progresso em que o silêncio vale mais que qualquer palavra… E a palavra se perde e se afaga na distância, no tempoe no silêncio que é alma e linguagem do próprio universo.
E para nós que nascemos ouvindo o grito da locomotiva, o silêncio desse grito parado no ar nos comove mais que qualquer discurso ou ensaio. Hoje é companheiro e amigo de gente estranha, que consigo vai levando vagões e vagões carregados de silêncio em busca de outros destinos, de outras vidas e novos empreendimentos.
Este apito ficou não na saudade muda ou amarga, mas num silêncio que não significa esquecimento ou ignorância. No fundo, lá dentro, no âmago, o que temos é um silêncio povoado de perguntas, sem respostas onde a palavra é engolida pela poeira das idéias e dos ideais que ouvimos e guardamos com carinho e ternura. Imagens e lembranças em nossa memória onde há sempre um grito ou apito de trem parado no ar…