A crise política da Bolívia deu sinais, há dois meses, de que não seria restita ao país. Em setembro, pouco antes das eleições, o ex-presidente Evo Morales deixou à mostra que não tinha força eleitoral para vencer a oposição ao seu governo de 14 anos quando disse que o estabelecimento de seu país como potência na América do Sul dependia mais da Rússia que dos Estados Unidos ou de países vizinhos, incluindo o Brasil. Por isso, em seguida, foi a Moscou assinar um contrato de parceria para expansão do comércio de gás natural com o governo russo, por meio do Acron Group e da estatal Gazprom. O contrato deu certo. A jogada eleitoral não.
Os efeitos geopolíticos da crise bolivariana vieram em seguida à suspeita vitória de Morales nas urnas e a pressão internacional pela anulação das eleições. Aí deu certo. O presidente renunciou. Mas, não significa que seja o fim dos problemas, o retorno da estabilidade nem o cumprimento de acordos assinados por Morales e russos, no calor da campanha eleitoral, envolvendo, inclusive, o fornecimento de gás ao Brasil, à UFN 3, de Três Lagoas, a partir de 2022. Significa até o oposto.
A oposição ao ex-presidente não terá, certamente, nenhum interesse de bloquear chances de desenvolvimento do país e de suas empresas, mas não deixará de revisar o acordo de Moscou nem de ouvir conselhos dos EUA sobre isso.
No meio da batalha internacional que se formou com a tentativa de Morales se perpetuar no poder, a Petrobras e, principalmente, Três Lagoas, aguardam ansiosamente a validação do contrato de venda da UFN 3, o reinício das obras, a venda do gás e, finalmente, o início da produção de fertilizantes na cidade. Se ocorrer em 2022, serão oito anos de atraso.
A retomada do projeto é o grande anseio de Três Lagoas nos campos da construção civil, indústria e agropecuária, entre outros, porque reviverá os anos de pleno crescimento, entre 2008 e 2017, com a instalação de fábricas. A conclusão de grandes projetos e a paralisação da UFN 3 destronou a cidade como geradora de empregos no país. Então, não é por menos que o empresariado e autoridades, além de trabalhadores, esperam por este projeto. Agora também esperam pelo fim da crise na Bolívia e a retomada das negociações.