Acredito que o dramalhão mexicano, envolvendo mais uma vez estudantes ocupando o prédio da reitoria na Universidade de São Paulo, já tenha cansado até os mais ferrenhos defensores dos movimentos estudantis, os quais, diga-se de passagem, há muito tempo carecem de objetivos e causas nobres para defenderem.
Sou nascido no ano da batalha da Rua Maria Antônia, a qual resultou de conflitos entre estudantes do Mackenzie e do curso de Filosofia da USP. Cresci numa época com pouca liberdade de expressão, o que nem por isso impossibilitou movimentos como as Diretas Já, levando centenas de milhares de pessoas as ruas, numa época sem redes sociais ou Twitter para organizá-los.
Como jovem adulto, acompanhei de longe o movimento dos Caras Pintadas na Paulista, uma vez que já estagiava em uma grande instituição financeira nesta mesma avenida. A vontade de mudar e lutar por um mundo melhor e mais justo era grande, e por pouco não me juntei à multidão, largando meus afazeres de estagiário.
O tempo passa mesmo rápido. Há alguns meses estava lendo as manchetes do estudante assassinado no estacionamento da FEA-USP. Imediatamente surgiu em minha memória situação idêntica vivida há mais de quinze anos atrás. Exatamente no mesmo local e na mesma situação fui vítima de um sequestro relâmpago, o qual ainda me traz algum incômodo em revivê-la.
Pude sentir a angústia vivida por aquela família, assim como senti uma ponta de esperança quando do acordo firmado com a Polícia Militar, cuja presença chegava com pelo menos uma década de atraso. Inúmeros furtos, roubos, sequestros e estupros poderiam ter sido evitados neste ínterim, não fosse à discussão ideológica sobre a liberdade no Campus e o papel repressor da força pública.
Os conceitos de proletariado, luta de classes, opressão, propriedade privada, meios de produção, revolução industrial, alienação do trabalho, burguesia e divisão de classes, utilizados como bordões por alguns destes vulgos ativistas, estariam melhores representados em uma aula de sociologia, história ou economia. O mundo atual já não tem espaço para minorias radicais, as quais, em defesa de seus interesses carentes de fundamentação acabam por prejudicar a maioria.
Hoje atuo como professor em uma renomada universidade particular. Abordando o assunto em sala de aula, pude sentir que grande parte mal teve tempo para analisá-la. Preocupações talvez consideradas pequenas pelos manifestantes da USP, tais como chegar na hora ao trabalho, pegar o ônibus, o trem e o metrô, pagar as contas da universidade, estudar outras línguas e passar de semestre, estão na pauta do dia.
Juro que senti um pouco de egoísmo e alienação com relação à participação aos movimentos estudantis, porém me dei como vencido quando vi estudantes lutando por uma causa como o “baseado da paz”, incomodando, depredando e denegrindo a imagem da universidade que tanto batalhei para entrar. Creio que isso sim, seja exemplo de egoísmo coletivo.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ
Opinião