Não quero por gosto ruim, mas, mesmo com o oba-oba e a curiosidade natural de indígenas, pantaneiros, jornalistas a trabalho e acólitos, algumas coisas devem ser ditas.
Não, não vou dizer que foi o único trem que já saiu atrasado na sua primeira viagem, nem vou mencionar que é preciso ir a Indubrasil para começar a viagem ao Pantanal. Isso já foi dito por muita gente.
Trata-se de uma viagem cansativa e cara. A 30 km por hora e a 126 reais, seriam necessários um excelente serviço de bordo, com show, muita paisagem, paradas ecológicas e infra-estrutura nas cidades por onde passa o trem do tuiuiú.
Sem querer comparar, já que é impossível fazê-lo, os barcos panorâmicos, praticamente uma gaiola de vidro, que nos levam pela baía de Tókio, pelos canais de Amsterdam ou pelo rio Sena, mais importante do que o transporte em si são as vistas da cidade, especialmente, uma Paris iluminada.
No caso de Tókio, o percurso é incrível, mostrando o melhor da cidade e foi lá que, em 1996, eu imaginei um tour panorâmico pelo Pantanal, com custos menores do que os do trem, mais baratos (o percurso é de 20 dólares). Em Paris e Amsterdam, o preço é um pouco maior mas tem uma garrafa de vinho e queijo à vontade no pacote.
Aliás, só a foto da Catedral Notre Dame iluminada vale o preço e a viagem noturna.
Naquela viagem de barco pelos rios Negro e Solimões, a infraestrutura, a oferta de lazer é tão grande que o turista nem quer deixar o barco quando chega. Tem até representantes da fauna amazônica para fotos do turista, que recebe um DVD no final da viagem, com suas aventuras. Eu fiz e valeu a pena.
Quanto à infraestrutura de apoio, o essencial não é o povo aglomerado na estação esperando o turista ou o próprio trem do Pantanal, mas sim o que o turista vai encontrar nas cidades, quando ele puser o pé no chão.
Entre Canela e Gramado há um trem, com shows, brincadeiras e algumas paradas para um drinque. Mas, obviamente, o melhor está nas próprias cidades-pólos, com sua fábrica em miniatura, a cidade de Papai Noel, o show no Lago Negro, o desfile de Natal e toda uma enorme oferta de lazer.
Não sei se o trem Pantanal tem vagão-leito, como nos antigos trens da Noroeste, porque, por enquanto, o turista pode, no máximo, comprar um bom livro para enfrentar a lenta viagem (o percurso é muito longo para 30 km por hora) e comer um pedaço de mamão quando chegar a Miranda.
Não quero desanimar o povo que, como Lula, considera a viagem um sonho (perto do pau-de-arara de Garanhuns a São Paulo é fichinha), mas ainda é pouco por 126 reais.
João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor