*Ruben Figueiró
Há muito tempo, lá pelo final do ano de 1947 do século passado já sob o embalo característico que só ocorre durante a rebeldia juvenil para mudar o rumo das coisas, empolguei-me por assistir as sessões da nossa Câmara Municipal, à época precariamente instalada no antigo prédio do Rádio Clube, na Avenida Afonso Pena, próximo da Avenida Calógeras.
A edilidade era composta por nove senhores vereadores e, espantem, não eram remunerados, pois a missão era considerada um múnus público, ou seja, um gesto de nobreza cívica de servir a comunidade. Lembro-me dos seus nomes: dr. Demosthenes Martins, presidente; dr. Arthur Vasconcelos Dias; dr. Paulo Coelho Machado; Senhor Mário Carrato; Senhor Arthur Martins de Barros e Senhor Pedro Roma, todos pela UDN, mais dr. Carlos Hugueney; Bel. Ulisses Serra; dr. Arthur Dávila Filho, pela coligação PSD/PTB.
Os debates, pelo seu elevado teor e grau de instrução aguçavam minha curiosidade, a ponto, já naquela época, despertaram-me o desejo de participar da política militante e no Legislativo e um dia subir pela escadinha de vereador a senador. Um sonho. O tempo disso se encarregou. Não me candidatei à vereança. Esta, fico devendo e lamento porque foi e é o degrau mais difícil no poder Legislativo para lá pisar e cumprir o dever como se deve.
No Legislativo servi 22 anos, deputado estadual, federal, deste constituinte em 1987/88, honra máxima de minha passagem pela vida pública – e agora, senador. Concluo esse nobre e caprichoso caminho entre pedregulhos e areia macia, convicto – permitam-me a imodéstia – mantive os meus ideais, não tergiversei, sempre com os olhos e a mente clara que essa era, e é, a minha missão.
Deixo registradas na Casa Alta da República, gravada em bronze, porque é perene minha passagem por ela, pronunciamentos da tribuna, debates nas comissões temáticas, projetos inúmeros, propostas de Emenda à Constituição, lutas intensas junto aos escalões ministeriais em favor de importantes medidas pelo nosso Mato Grosso do Sul.
Foram cinco as mais importantes, uma já em fase de execução, ou seja, a implantação de projeto de cooperação e auxílio às prefeituras municipais para substituição de pontes de madeira por outras de concreto nas áreas rurais. O programa já está inscrito no plano de obras da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) com a estreita participação do governo Reinaldo Azambuja.
A emblemática solução para o desassoreamento da bacia do rio Taquari, no Pantanal, já em fase de adiantados estudos e locação de recursos orçamentários. Para esta, associei-me aos senadores Delcídio Amaral e Waldemir Moka, valiosos parceiros.
A nebulosa luta pela implantação pela Petrobras ou por empresa particular de uma usina separadora do Gás Natural, ao longo do gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) para aproveitamento aqui de pelo menos três valiosos elementos: o butano, o propano e a ureia. Por quê? O butano e o propano, matéria prima para o gás de cozinha, que aqui envazado reduziria em 50% seu preço ao consumidor, a dona de casa. A ureia para a nossa ainda nascente indústria de fertilizantes em Três Lagoas.
Outra: a complementação do trecho em território nacional na heroica cidade de Porto Murtinho de ponte sobre o rio Paraguai, ligando-a na outra margem a Carmelo Peralta, já na República Guarani, dará sequência à implantação de trecho final da rota bioceânica. Isso vai permitir a interligação dos oceanos Altântico (Porto de Santos) ao Pacífico (Porto de Iquique, no Chile), de extrema importância não só para a economia do Brasil, como para as do Paraguai, Argentina, Bolívia e Chile na conquista do extraordinário mercado do oriente. Sobre este projeto fundamental para a rota bioceânica poderemos ter boas notícias brevemente.
Deixei propositalmente por último a mais preocupante de todas: a questão indígena, para a qual juntei forças com os meus colegas da bancada federal. Ouvi de alguns que essa luta tem sido inglória porque uma solução que trouxesse uma pacífica conciliação entre gentios e proprietários rurais estaria obstaculizada por forças ideológicas no atual governo federal, desejando manter o impasse para obter frutos políticos-eleitorais. Lamento.
De Henry Becker: “Há duas épocas na vida de um político. Na primeira, falam dele; na segunda, é ele quem fala de si próprio”. Sinto-me nesta condição. Não posso deixar de dizer aos meus concidadãos o que para mim foi possível realizar nesse final de vida pública que considero um corolário em mais de 65 anos de esperanças, algumas concretizadas.
Escrevi estas linhas com o objetivo primeiro de apresentar uma breve prestação de contas. Mas, sobretudo, para agradecer a todos os meus concidadãos e concidadãs por terem me proporcionado nas urnas democráticas de seis eleições a honra que vem do meu coração de representá-los no Poder Legislativo e a oportunidade de atingir e cumprir um dos meus sonhos, o de ser para sempre, sempre, senador da República! Valeu!