Envergonhado, vejo desfilando veículos com propaganda de velhos políticos em busca de reeleição.
Envergonhado não por eles, já que esse é um hábito adquirido em anos de passividade e comodismo de nossa parte, da chamada maioria silenciosa (e põe silêncio nisso!), que lhes permitiu voltar à Assembléia Legislativa por vinte, trinta anos.
Envergonhado por minha passividade. Por nunca falar contra isso. Por esse “deixar rolar”, por esse “nada posso fazer”, por um “se dependesse de mim…”.
O que esses ilustres senhores fizeram até hoje, a não ser montar um enorme painel de benefícios, empregos, honrarias, prelazias, beija-mãos por todo o Estado.
Esses empregados no serviço público, por sua vez, a cada eleição, se engajam bravamente na campanha das velhas raposas para manutenção dos privilégios. Não há quem ganhe a eleição deles, pois os votos se derramam sobre os espertos, que sabem o grau de dependência criado entre seu nome e os empregos espalhados por aí.
Eles nem precisam sair por aí, suando a camisa, fazendo campanha. Basta avisar que “estão na luta novamente” e os escravos saem a batalhar o voto de outros incautos. Estes, por sua vez, pensam que aquela pessoa que lhes pede o voto tem um canal direto com o Dr. Fulano. Pelo sim, pelo não, fica valendo o “um dia eu posso precisar”.
Tenho vergonha desses políticos, sim. Tenho mais vergonha, ainda, de mim e de minha atuação política que permite essa bandalheira. No fim, quando um deles resolve que é hora de sair, coloca um filho no seu lugar e pedem uma sinecura no Tribunal de Contas.
Lá, por toda uma vida sabidamente medíocre, continuam mamando nas generosas tetas do Tesouro, vale dizer, nas tetas que eu mantenho com os tributos pagos até no palito de dentes.
É por essas e outras que, timidamente, este ano, estou seguindo uma campanha de minha mãe, anciã de 83 anos, que resolveu, pura e simplesmente, pegar no telefone e convencer suas amigas e irmãs de igreja a não votarem em candidatos a reeleição.
Já virou centenas de votos e me estimulou a ajudá-la. Sei que milhares de empregados no serviço público, que nenhuma utilidade têm para mim e cujo único trabalho é servir de cabo eleitoral para esses velhos aproveitadores, perderão a boquinha.
Mas, afinal, estou eu no ramo de manter boquinhas? Não e não! Que esses bagrinhos levantem o rabinho das poltronas, saiam do ar condicionado e entrem nas filas das agências de emprego honesto, como qualquer brasileiro.
Desmontando esse escabroso sistema de mandatos automáticos e empregos perpétuos estarei fazendo alguma coisa e menos envergonhado.
João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor