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Opinião

Vila Piloto de Júpia (Uma História de Barrageiros)

“A cada vez que um pesquisador atento e rigoroso se debruça sobre a história, sempre uma construção, traz à tona elementos desconhecidos (…) transmuda-se nossa visão do passado e, por extensão, a compreensão do presente”
(Beth Nespoli)
Cercada de lagoas, rios, riachos, córregos, a vila Formigueiro vivia praticamente seus dias quentes em casas construídas num imenso areal à espera ninguém sabe do que. De vila a município mudou de nome e continuou no mesmo compasso de espera.
Crescia vegetativamente.
De repente uma noticia despertou a população. A construção de uma ponte ligando o Estado de São Paulo a Mato Grosso para a instalação dos trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – NOB.
Fim de uma espera.
De várias regiões do país e também de imigrantes estrangeiros se fizeram presentes. Um vai e vem de pessoas movimentando o comercio, as pensões, os hotéis e a edificação de casas.
Seguiu crescendo a passos lentos até chegamos a 1961 – a construção da Hidroelétrica de Júpia.
Três Lagoas alvoroçou-se. Trabalhadores do Brasil e do exterior aqui aportavam em busca de trabalho ou de novos empreendimentos.
Para abrigar toda sorte de funcionários construiu-se a Vila Piloto de Júpia.
É sobre esta comunidade que Henrique Figueira escreveu Vila Piloto de Júpia – Uma História de Barrageiros.
Para quem acompanhou este segundo ciclo de desenvolvimento de Três Lagoas, a leitura propiciou um flashback desse período aos posteriores uma excelente oportunidade para o conhecer o inicio e o fim destra obra.
O autor-narrador relata a história de 2 famílias imigrantes baianas que, por circunstâncias diversas, chegaram em busca de trabalho. São seus personagens Gevásio e a esposa Joana, o compadre Jesuíno e sua família composta de seis pessoas.
O autor do romance estabeleceu como linha divisória de uma nova ordem na região de Urubupungá: a morte de “Tião Chapéu de Couro”. Sem entrar em detalhes dobre esta informação, acredito que o autor maximinizou a importância desse “matador de aluguel” como agente modificador dos destinos de uma região.
Centralizando a ação temos o que Benedito Nunes chama de Narrativa Monocêntrica isto é, como narrativa desenvolvida em torno de um centro privilegiado.
que o próprio narrador ocupa, no caso, a Vila Piloto.
A narrativa se espraia em diálogos curtos – denotativa na condição de pobreza vocabular de muitos personagens – e monólogos interiores, principalmente de Jesuíno também característica de dificuldades de expressar os pensamentos e conflitos.
O Autor joga bem com o tempo. Há interrupções que truncam a narrativa, mas retomada no momento preciso: a parada de Jesuíno em Brumado, motivo de remorso e a carona de Gevársio no trajeto de Ilha Solteira – Vila Piloto, entre outras passagens.
Este discurso passa de um a outro nível do tempo, sem no entanto, perder a continuidade.
Voltemos aos personagens:
Expostos a um modus vivendi – lugar, cultura – estranho a eles há de se imaginar os desajustes transitórios surgidos no seio familiar.
A simplicidade no uso de palavras já estabelece o próprio retrato de Jesuíno que se fez um dos personagens no triangulo amoroso conflitivo…
A sua mudez e seu conhecimento sem palavras leva-o a cultivar interiormente e intensamente seu amor por Joana. A morte de Gevásio e problemas outros levam-no a desfazer vínculo familiar e sua união à mulher por tanto tempo desejada – Joana.
Com o término da construção da Barragem ardeu a ardente paixão de Jesuíno por Joana.
Não sou crítica literária em especialista em Teoria Literária. Analisar obra ou texto é Complexo… Apenas um enfoque pessoal, Caro Amigo Henrique Figueira.
Mas do que possa dizer, Marguerite Yourcenar já disse:
“O importante e contar a história de uma vida humana”

Flora Thomé é escritora e professora aposentada