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Editora de Portugal lança obra de escritor paranaibense

"Águas Atávicas" resgata cenários da Guerra do Paraguai

Escritor paranaibens, Marcos Faustino prepara nova obra - Divulgacão
Escritor paranaibens, Marcos Faustino prepara nova obra - Divulgacão

 

            Editora de Portugal, especializada em publicação de autores portugueses e brasileiros, e uma das maiores em crescimento no Brasil, mostrou interesse na obra do autor paranaibense Marcos Faustino. A editora Chiado incluiu em seu catálogo no gênero ficção o título “Águas Atávicas”, lançado inicialmente pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.

            A edição portuguesa, com 240 páginas, ganhou capa com reprodução de um quadro a óleo, exposto no Museu Nacional de Buenos Aires, que retrata a batalha de Tuiuti, a maior batalha campal já travada na América do Sul.

             De acordo com o autor, o interesse da editora portuguesa por “Águas Atávicas” foi justamente pela abordagem que a obra faz sobre a Guerra do Paraguai, ocasião em que a região de Paranaíba abrigou personagens marcantes do conflito, como o Visconde de Taunay, que terminou por escrever “Inocência”, importante romance da literatura brasileira. Marcos Faustino admite sentir-se honrado em ter seu nome associado a uma editora que tem como símbolo a silhueta do escritor Fernando Pessoa.

            A obra dedica quatro de seus doze capítulos ao maior confronto armado da América do Sul, quando cerca de 370 mil combatentes entre militares e civis perderam a vida, dos quais 50 mil brasileiros. O início da guerra em 1864, há 152 anos, foi registrado por Marcos Faustino com as tintas da dura realidade:     “De adiante dos campos de Vacarias, para além de Nioac, nas nascentes do rio Miranda, dos Dourados, Apa, proximidade do Paraguai. Forte de Coimbra e Corumbá, lonjura de muitos dias de viagem, meses até, há tempo vinham notícias de gente fugindo, sentido inverso ao dos povoadores. Relatos de ruindade, massacres, judiação, sem piedade. Sem respeito por família, barbaridades com as mocinhas e mesmo com as senhoras. Roubos descarados nas fazendas, saque de gado, pilhagem de todo tipo de mantimento. Eram os paraguaios invadindo o Brasil, difícil acreditar!”

            O autor relata o sentimento generalizado de receio da vila da Sant’Anna com o conflito e o temor do recrutamento forçado com a chegada da tropa brasileira em retirada. “Logo a coluna chegou; vinte e sete a pé e dez a cavalo. Homens esquálidos, tropa magra de dar dó. Era a prova final da seriedade dos acontecimentos, a realidade da guerra sangrenta. Seu comandante, o tenente coronel José Dias da Silva contou a triste sina de seus compatriotas:- A invasão veio sem aviso, gesto covarde e inesperado, nos dias de Natal, dezembro último. Quase oito mil paraguaios em direção à nossa capital Cuiabá”.

            “Águas Atávicas” reproduz no capítulo  “As delicias da Guerra”  o clima de bastidores protagonizado pelo voluntário Pereirinha e seu comandante o Visconde de Taunay, então engenheiro militar, com 23 anos, durante espera de meses da Comissão de Engenharia no alto da serra de Maracaju, em lugar aprazível e seguro graças a elevação do terreno.

            Os dias passavam e o aldeamento denominado Morros recebia, a cada dia, novos fugitivos da guerra entre eles, brancos e índios que tinham em comum o “ódio aos paraguaios”. Junto com as histórias, os fuxicos e os mexericos, que revelaram o lado conquistador e conhecedor da alma feminina de Visconde de Taunay.

 “Da feiura à beleza, espetáculo bonito foi a chegada de Miguel Arcanjo, índio batizado, e sua família. Pequena comitiva, olhares atônitos, atentos, fixos em sua filha mais nova… a beldade no frescor de seus quinze anos ia quase adormecida. Alta e magra, porém de boas carnes onde interessava, cintura afinada, cabelos negros, lábios delicados, seios sugeridos sob a fina roupa. Pereirinha viu primeiro, animou; rápido desanimou, Taunay olhava também. Deferência à patente explicando a desistência”.  O jovem corpo em balanços sensuais, sonolento e suaves contorções no caminhar indolente do boi. Calmo desfile a evocar sonhos eróticos na plateia masculina submetida a longa abstinência, Taunay olhava, desejava”

O estilo de Marcos Faustino confere graça ao episódio, quando o militar engenheiro, depois escritor, manda Pereirinha negociar com o pai para arrematar Tonha, a índia mato-grossense.  Negócio fechado com o auxílio de um colar de esmeraldas baratas, folheado a ouro, que comprara em Uberaba, cidade de Minas Gerais. Enfim, uma obra que remete o leitor ao passado real e remoto dos sertões de Mato Grosso, no século XIX, focando a vila de Sant’Anna do Paranahyba, terra natal do escritor de Águas Atávicas