Na última semana,um alerta para pais viralizou nas redes sociais no Brasil e em vários países. O texto dizia que a boneca Momo aparecia em vídeos no YouTube Kids e incitava crianças a atos violentos, principalmente com objetos cortantes. Momo é uma figura medonha, de olhos esbugalhados e parecida com uma mulher pássaro. Em uma corrente que se espalhou no ano passado mundo afora, alguém se passou pelo personagem e lançou um jogo com desafios perigosos, como o sufocamento e enforcamento.
Especialistas apontam que o efeito desejado por criadores da imagem e da história é semelhante ao do jogo conhecido por Baleia Azul, que surgiu em 2016, e tem registro de casos de suicídio em diversos países. No Brasil, estima-se que 11 crianças se suicidaram por indução do jogo. Em Três Lagoas, um grupo de mães, professores e psicólogos mantém campanhas permanentes de orientação em escolas. A cidade possui 180 registros de automutilação de adolescentes relacionados a práticas incentivadas por vídeos publicados em redes sociais.
De acordo com especialistas o alerta vai além da violência, passa pela linha do cuidado dos pais como a imposição de limites para a criança ter acesso à internet. Cristiane Aparecida Leal Buso Machado, psicóloga pós-graduada em psicopedagogia clínica e institucional, reforçou que foi definido pela Sociedade Brasileira de Pediatria que crianças menores de dois anos não devem ter acesso a meios eletrônicos, já as maiores de dois anos deve haver limite de meia hora a até no máximo uma hora.
“O mesmo documento fala que as crianças da última década estão mais sedentárias, obesas e com problemas cognitivos devido ao alto uso das tecnologias”, disse.
“A questão da boneca Momo é uma reedição da cultura do medo, que antigamente era a ‘Cuca’ ou o ‘Homem do Saco’ – então, aproveitou-se esta lenda. Fizeram uma boneca e colocaram num museu no Japão. A lenda diz que ela era uma mulher que morreu e perdeu os filhos depois voltava para assombrar os vivos. Cada época surge um personagem, mas hoje, essa ganhou mais intensidade devido à internet” disse.
Para Cristiane, tudo que excede não é saudável. “A criança, hoje, tem muitos meios de acesso à tecnologia, e como não tem meios de barrar o uso, mas tem a questão do respeito, rotina e comprometimento. Na minha casa eu devo definir as regras. Só que os pais de hoje perderam a noção disso, porque consideram é mais fácil dar um celular ou tablet, geralmente pelas mesmas desculpes de que trabalharam muito e estão cansados, ou também para compensar o tempo que passaram longe de filhos”, observou.
A psicóloga considera triste ver crianças saberem manusear celulares e não saberem brincar com jogos de raciocínio, como quebra-cabeças, por exemplo, hoje classificados como desinteressantes, além da ocorrência de problemas na alfabetização.
“As crianças não querem vencer esta dificuldade porque foi passado a elas que é chato”, enfatizou.
Pais
Larissa Prado disse que o filho de três anos viu um dos vídeos em que a boneca aparece e teve medo. “Ele pegou meu celular para ver filme, como de costume, de repente gritou. Na hora vimos que era a Momo. Ele não quis ver novamente, porque que a boneca ‘pediu’ para matar o papai e a mamãe. Ele teve febre durante a noite e não vai mais à cozinha sozinho”, disse a mãe do garoto.
Rafaela Machado disse também que proíbe uma filha pequena de assistir vídeos no celular. Ela acredita que a criança possa ter visto algum vídeo em que a Momo aparece, pois a criança apresentou mudança no comportamento nesta semana, com por exemplo dizer as palavras “olho e bicho”, além de estar bastante assustada.