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Abandono

'Faço janta ou tomo banho', diz moradora da Vila Raimundo sobre falta d'água

Outro motivo de reclamação é a má instalação da Unidade Básica de Saúde, que não possui bancos na área externa

A estudante Mariana Alves da Silva, de 16 anos, conta que ela sempre precisa pegar as roupas para lavar nos vizinhos - Lucas dos Anjos/JPNEWS
A estudante Mariana Alves da Silva, de 16 anos, conta que ela sempre precisa pegar as roupas para lavar nos vizinhos - Lucas dos Anjos/JPNEWS

Um problema que tem se intensificado no cotidiano de moradores da Vila Raimundo, distrito de Paranaíba, distante cerca de 50 quilômetros da área urbana, é a escassez de água potável para as atividades cotidianas, desde o mais simples como lavar louça, até realização higiene pessoal, conforme disseram moradores em entrevista ao JPNEWS.

De acordo com as denúncias, duas bombas em poços artesianos, furados há mais de 20 anos, fazem os serviços de levar água até duas caixas que foram instaladas há também cerca de 20 anos, porém, estas caixas, por serem antigas, estão com problemas de vazamento e não conseguem levar o serviço de boa qualidade até as residências. Além disso, por diversas vezes ela se queima e durante vários dias os moradores ficam desabastecidos, segundo relato dos moradores.

Outro problema, segundo os moradores, é a má instalação da Unidade Básica de Saúde, que não possui bancos na área externa e, por vezes, os moradores ficam expostos ao sol e chuva enquanto aguardam atendimento, pois o local não tem cobertura.

Antônio Joel, trabalhador rural e morador do local, contou que um poste em más condições que fica rente sua residência tem lhe trazido bastante desconforto, pois há anos o instrumento que sustenta a rede elétrica está podre e sinaliza que pode cair.

“Eu pego água no vizinho quando preciso, nesta semana ficamos três dias sem água, mas já aconteceu de ficar mais dias sem”, relatou

A estudante Mariana Alves da Silva, de 16 anos, conta que ela sempre precisa pedir para lavar as roupas na casa de vizinhos, pois quando tem água na torneira eles aproveitam para armazenar e utilizar na manipulação de alimentos.

Maria Josemar, que reside no local há anos, conta que seu pai que é idoso e já ficou várias vezes em pé esperando por atendimento e que o médico dá preferência ao atendimento das crianças por conta disso.

Maria, que possui poço em sua casa, explicou ao JPNEWS que é comum ela auxiliar os vizinhos com doação de água, porque há falta constante.

“Eu tenho poço na minha casa, mas quem não tem como faz? Eu procuro ajudar os vizinhos quando há falta de água, eu me preocupo, tem gente que tem criança em casa”, contou.

Ela ainda disse que o pai é idoso e por diversas vezes ele espera de pé ou do lado de fora para ser atendido. “Quando chove a gente corre pro boteco”. O bar fica há cerca de 20 metros da Unidade.

Durante a visita ao local, a equipe de reportagem encontrou e conversou com uma idosa – que preferiu não se identificar – moradora do local desde a criação da região. A idosa contou que está cansada de ouvir promessas de políticos, de que irão resolver o problema, mas nunca resolvem.

“Na época da eleição é tapinha nas costas, depois ninguém aparece aqui. Na Páscoa teve um vereador aqui que deu chocolate com uma foto dele, eu perguntei porque ele não deu garrafa de água”, disse.

Dona-de-casa, a mulher relata dificuldades em limpar a casa, lavar louça, fazer comida e também a higiene pessoal. “Uma dona-de-casa sem sabão e água não consegue fazer nada”.

Rose Martioli, 42 anos, tem cinco filhos e conta que quando falta água a família precisa escolher entre tomar banho ou comer. “Eu nunca tinha visto isso na minha vida. Sou do Paraná, e estou aqui há um ano, o pessoal aqui é abandonado”, observou.

Os moradores contaram também, que a pessoa que realizava a manutenção no serviço faleceu, e desde então estão com problemas.

Segundo os relatos, a pessoa que está fazendo o serviço de manutenção atualmente é um voluntário, não recebe e disse aos moradores "que mesmo sem receber não pretende parar os serviços, pois se compadece das crianças e idosos que residem na Vila."

Em contato com o secretário de Administração, Longuinho Alves de Oliveira, ele explicou que o homem é indigente e por conta disso não pode ser contratado, porém a prefeitura intermediou junto a Defensoria Pública para regularizar a situação dele e posteriormente celebrar a contratação.

“Durante esse tempo nós estamos dando auxílio a ele através de cestas básicas e valores em dinheiro, ainda este mês sairá a decisão judicial quanto aos documentos pessoais dele e então poderemos realizar os trâmites legais da contratação”, explicou Longuinho por telefone.