Quando os primeiros casos de covid-19 começaram a surgir no Brasil, o país e a área da saúde entraram em um estado de alerta para conter o avanço do vírus. Porém, assim como o coronavírus, há uma outra doença que não espera: o câncer. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), 50 mil novos casos deixaram de ser diagnosticados no Brasil somente em Março e Abril de 2019. Essa queda na identificação mostra apenas o que o mercado da oncologia já está ciente: haverá um “boom” de pacientes com câncer em 2022.
Os números também fazem sentido com a projeção do Instituto Nacional do Câncer (INCA) que divulgou novas estatísticas para o triênio 2020-2022, onde o país irá atingir os 625 mil novos casos a cada ano. Entre os tipos da doença – e uma das que mais matam mulheres no mundo depois do câncer de pele não melanoma – afetados diretamente pelos efeitos da pandemia e do isolamento social, está o câncer de mama, que registrou queda de 42% em 2020 com relação a 2019 em exames de mamografia, de acordo com um estudo publicado pela mastologista Jordana Bessa na Revista de Saúde Pública (“Breast imaging hindered during covid-19 pandemic, in Brazil”). São 800 mil exames não realizados que, considerando a taxa de detecção, querem dizer que 4 mil casos não foram diagnosticados este ano. E, veja bem, estamos falando apenas da saúde pública.
Mesmo em pacientes que já tinham nódulos palpáveis e necessitavam de acompanhamento, as mamografias não foram feitas – cerca de quase 50 mil mulheres. Como se já não bastassem as várias dificuldades diárias de um paciente diagnosticado com a doença, as lutas judiciais travadas contra planos de saúde para conseguir um único exame ou até mesmo a longa espera na fila do SUS, a área da saúde sofre também com os impactos da pandemia a longo prazo. A pergunta que fica é: quando esse “boom” chegar, o que poderemos fazer?
Como vamos resolver? Como colocar “a casa em ordem”? O setor de oncologia já está atento para este cenário e vem, dentro do possível, monitorando a situação de perto e buscando trazer a conscientização da população para a importância da realização dos exames de rotina. Mas sabemos que, assim como já foram todos estes anos, a saúde pública pode não suportar a demanda e a privada está fora da realidade para muitos brasileiros. O momento, no entanto, é de união, ajuda e responsabilidade.
As healthtechs, como são chamadas as startups de saúde, talvez tenham um papel fundamental nesse cenário. A receita para que isso funcione é continuar promovendo a inovação no mercado, mas sempre em benefício da população, ou seja, aliar a sua veia empreendedora e tecnológica a um custo mais baixo e acessível para que todos tenham a oportunidade de tentar e correr atrás do tempo perdido. Já existem empresas engajadas neste sentido, oferecendo serviços de qualidade e olhando para o todo, como a nutrição e a psicologia.
Essa união será essencial para que o país se recupere também do câncer e consiga trazer números mais otimistas no futuro.
*Renan Aleluia é CEO e fundador da Ana Saúde, clínica digital especializada em oncologia e atenção primária ao paciente com câncer