Uma campanha de combate a violência contra mulher, lançada pela Rádio Cultura FM Paranaíba 106.3 MHz e intitulada “Eu não respeito homem que bate em mulher”, ganhou a adesão dos ouvintes da emissora. Após o lançamento, inúmeras pessoas começaram a enviar mensagens no WhatsApp da rádio parabenizando pela iniciativa. Mas, o que mais chamou a atenção da direção da emissora, foram os relatos de alguns ouvintes afirmando que ao ouvirem os spots (gravações) que vão ao AR durante a programação com os dizeres: “O celular dela não é seu. A roupa dela não é sua. O corpo dela não te pertence. Eu sou o Alex Santos (exemplo), e não respeito homem que bate em mulher”, gravado na voz de cada locutor da emissora, seja da grade artística ou jornalística, crianças começaram a imitar os apresentadores repetindo diversas vezes o texto, como forma de “brincar de locutor”.
Um dos casos relatados foi o de Henry Guilherme Soares Moreira, de três anos, filho da auxiliar de odontologia, Danubia Roberta Soares Vieira, de 30 anos. Ela contou ao JPNEWS que o filho constantemente repete o texto ao longo do dia, afirmando que “Não respeita homem que bate em mulher”. Um áudio de Guilherme repetindo os dizeres chegou a ser enviado para a emissora e reproduzido no programa Tudo de Bom, que vai ao AR aos sábados a partir das 8h.
Em conversa com o JPNEWS, familiares do garoto afirmaram que campanhas assim são importantes, pois vão “colocando na cabeça da criança que não se deve agredir uma mulher”.
Diogo Borges Ferreira, cinco anos, filho de Élida Ferreira, dona de casa, 35 anos, também repete as frases do spot da campanha. “Meu filho volta e meia diz ‘mamãe, eu não respeito homem que bate em mulher’, e eu sempre reforço dizendo que é assim mesmo que tem que ser. Que tem que ser como o moço que acabou de falar no rádio”, afirmou a dona de casa e ouvinte da emissora.
Para Leonardo Guimarães, idealizador da campanha, diretor artístico da rádio, redator e editor chefe do programa jornalístico Jornal do Povo, que vai ao AR de segunda a sexta às 10h, o objetivo está sendo alcançado. Segundo ele a intenção é combater os argumentos usados por agressores e influenciar crianças e adolescentes.
“Este era nosso objetivo quando pensamos na ação. Queríamos frases objetivas, claras e que pudessem ser assimiladas rapidamente, inclusive pelas crianças. Em conversa com policiais, ouvimos que os agressores dão inúmeras razões para terem agredido suas companheiras: mensagens recebidas no celular, roupas que eles julgavam inapropriadas, negativa de relação sexual e término de relacionamento entre outras coisas. Por isso as frases específicas da campanha, afirmando que não há justificativa e nem respeito. Devemos conscientizar crianças, adolescentes e jovens. Já os adultos que cometem e reincidem neste crime devem ser presos e ficarem presos.”, disse Guimarães.
O diretor afirma que é preciso sempre estar atento e reflexivo quanto ao modo como se trata e se é tratado pelo seu parceiro. Inclusive após um possível término de relacionamento.
“É preciso sempre estar atento e aberto a uma ampla reflexão sobre nós mesmos e sobre o outro. Não há casais perfeitos ou imunes a brigas e conflitos. Partindo desse princípio é que devemos tomar todo cuidado. Em muitos casos somos severos com palavras, ignorando, excluindo e ferindo o outro. Muitos casais nunca vão chegar ao extremo da violência física, mas podem passar o resto de suas vidas mergulhados em comportamentos que ferem, frutos de uma relação doentia e abusiva. Aperte o ‘botão' de alerta e autoanálise quando seu parceiro reclamar de como você se dirige a ele, de coisas que você já disse, fez ou deixou de fazer. Pare, pense, reflita e se coloque no lugar do outro. Talvez fomos assim em algum momento, ou, constantemente, sem perceber; e isso também é violência. É preciso identificar e assumir os erros. Em caso de término de relação, observe comportamentos como: ligações e mensagens insistentes, inúmeros pedidos para reatar, perseguição, frases do tipo ‘te amo demais e não consigo viver sem você’, ou ‘se você não for minha não será de mais ninguém’, difamação, visitas insistentes à casa de seus familiares e pedidos para que amigos e amigas falem com você, entre outras coisas muito comuns nos casos de violência que chegam à nossa redação”, afirmou Leonardo.
No dia sete de agosto a lei Maria da Penha, que tem como objetivo proteger mulheres de abusos e violência, completou 11 anos, e uma entrevista especial foi feita pelo jornalismo da Cultura FM com a delegada Eva Maira Cogo, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher. A delegada relatou que a unidade tem obtido números positivos em Paranaíba.
“Aumentou muito o número de registros de casos. E isto não significa propriamente que os números de casos de violência tenham aumentado, mas que, agora, com toda esta conscientização, as mulheres tem perdido o medo de denunciar e buscar apoio”, afirmou.
Sobre o cumprimento e fiscalização das medidas protetivas, Eva afirmou que está em implantação no município o Programa Mulher Segura (Promuse) que visa, em ação conjunta entre Polícia Civil e Militar, fiscalizar o andamento das medidas em execução. O programa também visa capacitar policiais militares para um atendimento mais humanizado a essas mulheres.