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SEGURANÇA PÚBLICA

Em uma década, aumenta a letalidade policial e diminuem os homicídios em MS

Estado lidera crescimento de mortes por intervenção policial no país, enquanto assassinatos caem 34%

Estado lidera crescimento de mortes por intervenção policial no país, enquanto assassinatos caem 34% - Foto: Reprodução/Pexels
Estado lidera crescimento de mortes por intervenção policial no país, enquanto assassinatos caem 34% - Foto: Reprodução/Pexels

Nos últimos dez anos, Mato Grosso do Sul apresentou um aumento de 471% no número de mortes causadas por intervenção policial, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Esse é o maior crescimento registrado no país, no período. Entre os anos de 2015 e 2024 o estado contabilizou 622 mortes (2021 não teve dados informados) decorrentes de confrontos com as forças de segurança. (Veja gráfico abaixo)

O levantamento mostra um aumento significativo nos índices. Em 2015, foram registrados 15 casos. Esse número mais que dobrou em 2016, chegando a 33, e continuou crescendo até atingir o pico de 134 mortes em 2020. No ano passado, foram 86 mortes em confronto — o equivalente a um caso a cada quatro dias, em média.

Já o número de homicídios dolosos no estado, caiu em 34% nessa última década, se considerarmos os números absolutos. Em 2015 foram registrados 638 assassinatos em Mato Grosso do Sul — o equivalente a 1,7 casos/dia. Em 2024, esse número foi de 421 casos — o equivalente a 1,1 caso/dia, em média.

Essa queda no número de assassinatos fica mais significativa se o cálculo levar em conta o aumento populacional nessa última década. A estatística revela que em 2015 foram registrados 24 homicídios dolosos para cada grupo de 100 mil habitantes, em Mato Grosso do Sul. Já no ano passado, esse total caiu para 14 casos a cada grupo de 100 mil habitantes. Isso representa uma queda de 41% nos assassinatos.

Análise de especialistas em Segurança Pública

Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado Coronel David (PL), o aumento no número de mortes de criminosos em confronto está relacionado à postura mais agressiva dos bandidos.

“Na minha experiência, a gente nota que, ao longo do tempo, a marginalidade começou a adquirir um certo desrespeito em relação aos policiais e foi para o combate, não obedecendo às ordens solicitadas pelos militares. Isso certamente gera o confronto”, comentou.

O parlamentar, que já foi ex-comandante da Polícia Militar, defende a atuação das forças de segurança. “O policial não sai de casa para matar ninguém, mas também não sai para morrer. Antes o bandido do que o policial, e, quando morre um bandido, a sociedade fica mais segura”, afirmou.

Já o diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Fernando Nogueira, que também possui experiência na área de segurança pública, destaca a importância de investimentos constantes na formação dos policiais para reduzir as mortes.

“A letalidade policial envolve a criminalidade, que vem crescendo nos estados vizinhos de Mato Grosso do Sul, e isso impacta o estado, principalmente por sermos um corredor do tráfico de drogas devido à fronteira. Por isso é importante que as academias de polícia estejam preparadas, com cursos de abordagem, cursos de investigação, para que esse embate seja a última opção”, concluiu.

Sobre a relação da queda de assassinatos e o aumento da letalidade policial, Fernando Nogueira comenta que a maioria dos confrontos são contra membros de organizações criminosas, responsáveis pela prática de crimes graves.

“A partir do momento que há o embate policial eliminando esses membros de facções, a tendência é realmente esses crimes graves diminuir. Isso não é 100% matematicamente estudado, mas você observa que a partir do momento em que há desmantelamento de gangues e o embate na eliminação de alguns chefes, há uma diminuição realmente dos grandes crimes graves”, afirmou.

Divergência de dados

A base de dados do Sinesp são fornecidos pelos próprios estados, no entanto, há divergências entre os números apresentados pela Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Houve 576 mortes por intervenção policial na última década de acordo com a Sejusp, 46 casos a menos do que o informado pelo Sinesp. A média anual informada pela Sejusp é de 46 óbitos, enquanto o Sinesp apresenta 69.

O Ministério da Justiça e a Sejusp foram procurados para esclarecer a disparidade, mas não responderam até o fechamento desta reportagem.