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Reportagem Especial

Medo, distância e insegurança: o drama das mulheres indígenas vítimas de violência doméstica em Dourados

Casos nas comunidades foram 10% dos registrados no Estado em 2020, segundo dados do TJMS

Casos nas comunidades foram 10% dos registrados no Estado em 2020, segundo dados do TJMS. - Foto: Ilustração/mulhersemrotulo.com
Casos nas comunidades foram 10% dos registrados no Estado em 2020, segundo dados do TJMS. - Foto: Ilustração/mulhersemrotulo.com

A violência contra as mulheres indígenas ganhou notoriedade nos últimos dias, com o triste caso da menina Rayssa, de apenas 11 anos de idade. Da etnia Garani Kaiowá, ela foi brutalmente assassinada depois de sofrer estupro coletivo. O fato aconteceu no início de agosto, próximo à aldeia Bororó, na reserva indígena de Dourados, onde ela e a família viviam.

Infelizmente, Rayssa é apenas uma das muitas mulheres vítimas de abuso na localidade, que abriga mais de 18% dos indígenas de Mato Grosso do Sul. Segundo dados do Tribunal de Justiça do Estado (TJMS), em 2020, o número representou 10% dos 61 casos de feminicídio que ocorreram, sejam em tentativas ou consumados.

Em meio ao avanço da violência, o grupo Arandu Kunha, formado por 40 mulheres indígenas, em 2008, criou uma comissão para auxiliar quem passa por isso. Conforme os registros do coletivo, entre este ano e ano passado, foram 12 mulheres atendidas, sendo três menores de idade. Duas precisaram sair do local por ameaça e outras três conseguiram a medida protetiva.

“Nós temos procurado orientar as mulheres para não ter vergonha e não ter medo nesses casos, que é o que mais ocorre. Orientamos a fazer a denúncia, procurar ajuda de todos os tipos, da questão psicológica”, explica a coordenadora do grupo, Jussara Marques.

Além do medo, a distância para formalizar denúncia é um dos principais empecilhos na comunidade. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) mais próxima fica do outro lado da cidade, há cerca de 2h30min de caminhada ou 30min de carro.

“Essa é a maior dificuldade das mulheres, porque o fato de sair da aldeia já é difícil. Imagina atravessar a cidade na situação que elas estão aqui, com 3, 4 crianças, e às vezes sem ajuda de alguém para levar e trazer de volta. Porque ninguém quer levar a mulher”, afirma Jussara.

No entanto, construir uma unidade dentro da aldeia é um risco, porque, segundo a coordenadora, o medo se torna maior quando se está no mesmo ambiente que o abusador. “Ela não vai querer procurar uma delegacia que está dentro do espaço do agressor. Então precisamos de uma Deam próxima daqui”.

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