Um recente histórico de divergências entre filiados, com os "cabeças" do partido indo para um lado, e parte da base indo para o outro. Assim pode ser retratado o cenário interno do PDT de Mato Grosso do Sul nos últimos anos, que teve um surpreendente "gran finale" nessa janela partidário: seu maior nome, o deputado federal Dagoberto Nogueira, trocou de partido.
Presidente da sigla no Estado e tido como "dono" da mesma, ao lado de João Leite Schimitid, nome outrora forte entre o público e hoje atuando apenas nos bastidores, Dagoberto entrou no PDT em 1991 e, 31 anos depois, o deixou para desembarcar no PSDB.
A movimentação só foi a cereja do bolo de uma sequência de ações do partido. Desde o final da década passada o PDT, que se fortaleceu com nomes eleitos para a Assembleia Legislativa e Câmara Municipal – caso do deputado Jamilson Name e dos vereadores Ademir Santana e Odilon de Oliveira Junior -, vem perdendo expressão entre o eleitorado local.
Enfraquecida com a saída desses nomes e também de outros que compunham a base e migraram para PT e PSB, siglas também ligados à esquerda, a legenda pedetista deu um sinal que fez mais nomes debandarem dali, ou ao menos se afastarem por tempo indeterminado nos atos partidários.
"De todos os nomes que temos aí, o do Eduardo Riedel é o melhor. Rose, André, Marquinhos então, nem se fala, são todos farinhas do mesmo saco. Então é melhor apoiar alguém que pelo menos tenha comprometimento com os municípios e tem um trabalho já apresentado", destacou Dagoberto no fim de janeiro, após encontrar o presidente nacional do PSOL.
O encontro aconteceu na Câmara Municipal de Campo Grande, quando o deputado federal ainda era presidente do PDT. A escolha por Riedel não caiu bem entre boa parte dos filiados, em especial os ligados à área da educação e que consideram os tucanos "inimigos" do setor.
CHAPA FRACA E RETORNO
A situação, aliada a questões passadas, fez com que a sigla sequer conseguisse nomes com mais apelo para compor sua chapa para deputado federal, cargo onde Dagoberto tentaria se reeleger, mas viu que não seria possível atingir os 160 mil votos necessários na legenda – enquanto isso, Lucas de Lima, Enelvo Felini e Mario Kruger chegaram para vaga na Assembleia.
"Fazer o quê? Tem que saber lidar com isso também, não tem outro jeito", opinou o único vereador do PDT na Câmara da Capital, Marcos Tabosa, ao ser questionado pela CBN Campo Grande sobre a debandada. Tabosa é sindicalista e tem atuação muito pautada por essa linha.
Ainda conforme apurado pela reportagem, existe a possibilidade de Dagoberto retornar ao PDT após as eleições, sendo o PSDB apenas uma espécie de "barriga de aluguel" para o deputado federal tentar a reeleição. Tal acordo não é confirmado oficialmente pelos envolvidos.
Além da histórica ligação de Dagoberto com o PDT e com Schimidt, que assumiu o comando do partido com sua saída, o deputado esteve presente em importantes eventos pedetistas mesmo após o anúncio da filiação ao PSDB, em evento na sede dos tucanos na Capital.
Isso indica que, apesar do desembarque em outro partido, o cacique político continua tendo influência no PDT, onde vários aliados permanecem – como a secretária de assuntos de organização, Kelly da Costa, e o consultor jurídico Yves Drosghic.
No fim de semana passado, Dagoberto esteve presente e sentado na mesa de autoridades – mesmo já filiado ao PSDB – no ato de filiação do radialista Lucas de Lima e do ex-prefeito de Rio Verde, Mário Kruger, realizado em Campo Grande. Outra filiação em que ele foi presença garantida aconteceu em Sidrolândia, berço do ex-prefeito e ex-deputado estadual Enelvo.