A reprimenda do ex-presidente Lula, cobrando dos deputados do PT união e apoio ao governo Dilma Rousseff, causou desconforto na ala paulista da Câmara.
Deputados do partido se dizem injustiçados pelo Planalto, que não reconhece a "fidelidade" da bancada nas votações de interesse do governo. Eles pedem um encontro de Lula, nos moldes do que ocorreu no Senado há poucas semanas.
No sábado, em encontro do PT de São Paulo, Lula lembrou o mensalão para citar os estragos causados pela cizânia e desconfiança dentro da própria legenda.
Recentemente, as disputas internas causaram problemas durante a crise que derrubou o ex-ministro Antonio Palocci e durante a escolha da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
"Creio que não há razão para dizer que a nossa bancada está desunida. Nós sempre atuamos em defesa do governo. As disputas já foram resolvidas e portanto não há motivo para ficar repassando", disse o líder do PT, Paulo Teixeira (SP).
"Faltou um pouco de informação a ele [Lula], a bancada está unida como nunca", disse o deputado Jilmar Tatto (SP). Para ele, um encontro da bancada com o ex-presidente seria "saudável".
Já o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), diz que nas próximas semanas será possível "sentir" os efeitos da fala de Lula.
"Decidimos não valorizar as nossas divergências, mas reforçar os pontos comuns. As disputas individuais não vão mais ser levadas para dentro da bancada", disse ele ontem, reconhecendo atritos, mas que seriam "anteriores ao governo Lula".
Entre as disputas percebidas na bancada estão rusgas remanescentes da disputa pela presidência da Câmara entre Vaccarezza e Marco Maia (PT-RS), que venceu com apoio de parte dos deputados de São Paulo.
Entre os aliados de Maia está Arlindo Chinaglia (SP), ex-presidente da Casa. Ontem, ele deu o tom dos desentendimentos. "Não há como ter briga. A força do presidente da Câmara é incomensuravelmente maior do que a de qualquer outro deputado", disse, referindo-se à rivalidade entre Vaccarezza e Maia.
Outros deputados defendem que Lula participe mais da costura política.
"O Lula tem que conversar mais, ainda mais nessa reta política de início de conversas para as eleições, tem que conversar com os pré-candidatos. Ele tem muito peso, é bom que faça isso", disse Carlos Zarattini (SP).
Vocalizando a ala do partido que reclama da pouca atenção da presidente à bancada na Câmara, um nome influente da sigla diz que Lula deveria se reunir com a bancada para "mostrar o caminho da conversa" a Dilma.