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Câmara de Três Lagoas ‘torra’ dinheiro público

Em menos de dois meses, Legislativo Municipal gastou R$ 100 mil em diárias

Poder Legislativo deve consumir mais de R$ 15 milhões, dinheiro que daria para construir 12 creches
Poder Legislativo deve consumir mais de R$ 15 milhões, dinheiro que daria para construir 12 creches

É fato que Três Lagoas enfrenta uma de suas piores crises financeiras muito longe daquela euforia da instalação da Fibria e International Paper por conta do inchaço da máquina pública e da falta de planejamento da prefeitura, resultando como consequência a impotência do Poder Público em resolver os principais problemas do município na área da saúde, educação, assistência social e infraestrutura urbana. Exemplos disso, são fatos recentes como a falta de medicamentos em postos de saúde, onde farmácias foram fechadas, e até mesmo a falha no fornecimento da merenda escolar. Enquanto isso a Câmara Municipal, comandada pelo presidente Jorginho do Gás, ao contrário, “nada” no dinheiro do contribuinte, com uma receita anual que gira em torno de R$ 15 milhões. Numa série de reportagens exclusivas, o Jornal do Povo vai detalhar um pouco destes gastos e para onde eles são destinados.

A receita anual da Câmara Municipal seria suficiente para garantir a construção de 12 creches na cidade e atender mais de 2 mil crianças ou adquirir 15 ambulâncias. Utilizando um outro exemplo, com R$ 15 milhões disponível em caixa, a prefeitura poderia executar 150 mil metros quadra- dos de pavimentação das ruas da periferia da cidade, o equivalente uma estrada com 21 quilômetros de extensão.

Numa outra comparação, este dinheiro daria para garantir a execução de 16 obras semelhantes ao recapeamento recém-inaugurado na avenida Filinto Müller,projeto esse diga-se executado com recursos estaduais. É evidente que a receita da Câmara Municipal de Três Lagoas é um direito constitucional e a referida verba é a garantia da funcionalidade do Poder Legislativo.Porém,mais evidente ainda é que o referido órgão se transformou na espécie de “Coração de Mãe” com vários tipos de regalias nestes últimos anos.

DIÁRIAS

Apesar do aumento de vereadores de 11 para 17, o Poder Legislativo consegue ser “generoso” com os seus representantes, garantindo salário de R$ 10 mil mensais e diárias, muitas diárias, com cálculos muito longe da realidade financeira de um pobre trabalhador que entende o mínimo possível de gerenciamento de finanças. No ano passado foi denunciado que tantos assessores como os próprios vereadores vinham fazendo uma verdadeira farra em “viagens”, cuja ajuda de custo rendia aos privilegiados a quantia de R$ 900 no caso de ser em Mato Grosso do Sul e R$ 1,350 mil para outros estados. A maioria com justificativas de fazerem cursos de qualificação. Nem bem os trabalhos legislativos iniciaram esse ano e já foi totalizado um gasto de mais de R$ 100 mil diárias, num período de apenas um mês de trabalho, somando viagens de vereadores, assessores parlamentares e funcionários da Câmara.

Em contra partida basta fazer pesquisa rápida e descobrir que hoje a despesa de um servidor quando em viagem gira em torno de R$ 150, incluindo hospedagem e alimentação. Chama a atenção ainda que muitas das viagens são feitas para cidades do estado vizinho, que fica ali pertinho, atravessando o rio Paraná a poucos quilômetros de Três Lagoas, mas que acaba fazendo um diferença substancial no valor, pois eles acabam tendo direito a diária interestadual.

Pressionados com a repercussão da “farra das diá- rias”, essa semana os vereadores aprovaram projeto para reduzir os valores, mas que ainda continuam muito acima da realidade financeira de qualquer cidadão esclarecido que costuma viajar. Ficou estabelecido que o valor da diária será de R$ 700 e, caso o destino seja superior a uma distância acima de 1000 quilômetros do município (ida e volta), o benefício tem um acréscimo de mais 40% (R$ 280,00).

Combustíveis à vontade 

Além das diárias, os vereadores contam com uma boa dose de combustível para abastecer seus veículos. Cada um tem direito a 300 litros por mês. Ou seja, a Câmara Municipal assinou uma espécie de cheque em branco para os vereadores gastarem 5.100 litros mensalmente. Isso representa um gasto de cerca de R$ 17 mil a cada mês, considerando o preço da gasolina. A movimentação de veículos no posto de combustível localizado a 100 metros da sede legislativa é intensa. Atualmente, estão cadastrados no sistema da Câmara 46 veículos e até um cortador de grama para abastecer com a cota que cada um tem direito.

Considerando que o vereador utilize os 300 litros e muitos assim o fazem isso representa autonomia para um carro percorrer distância equivalente a mais de 3 mil quilômetros, ou seja, daria para o motoristase deslocar até Campo Grande mais de 10 vezes ou viajar da cidade até Salvador, capital da Bahia, e ainda ter uma reserva para percorrer mais de 800 quilômetros pelos belos pontos turísticos daquele estado.

Enfim, na contramão do caos financeiro que vem sendo verificado nos últimos anos em Três Lagoas, a Câmara Municipal não tem com o que se preocupar. Enquanto isso, a população da cidade continua sonhando com uma cidade desenvolvida, com melhorias em seus bairros, procurando viver com o mínimo de dignidade humana. (Denilson Pinto).